Amigos de infância, o rap e o jazz se unem novamente pelas mãos de artistas talentosos como Kendrick Lamar e Tássia Reis e dão vidas a novas fórmulas

Publicado em 01/08/2016 às 12h19

Atualizado em 02/08/2016 às 13h42

Thiago Sobrinho

tsobrinho@redegazeta.com.br

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Os cinco Grammys que Kendrick Lamar conquistou em fevereiro último pelo álbum “To Pimp a Butterfly” (2015) – além de sua icônica apresentação na cerimônia – fizeram que todos os holofotes fossem voltados para o rapper nascido em Compton, Los Angeles. 

Apesar de ter perdido o prêmio de álbum do ano para Taylor Swift, “To Pimp...”, terceiro trabalho da carreira do americano, é um daqueles discos que certamente serão revisitados no futuro pelas próximas gerações.

Um dos seus principais trunfos é contar com excelentes instrumentistas que dão base aos voos rasantes das rimas de Lamar. Um cast composto por jazzistas contemporâneos de Los Angeles dá um sabor especial às canções – como o ótimo pianista Robert Glasper e o visceral saxofonista Kamasi Washington.

Embora seja uma aproximação louvável, ela não é inédita. Ambos os estilos têm DNA na cultura negra. Musicalmente, a improvisação é outra característica em comum forte entre eles.

Os primeiros flertes entre os estilos aconteceram ainda nos anos 1980 quando o Run-DMC sampleou o jazzista Bob James na música “Peter Piper”. Na década seguinte, o trompetista Miles Davis foi além e gravou “Doo-Bop” (1991) em parceria com o rapper e produtor Easy Mo Bee.

O experimento escancarou as portas para que surgissem álbuns como “Jazzmatazz, Vol.1” – disco lançado no ano seguinte a partir de um projeto liderado pelo rapper Guru (1966–2010), líder do Gang Starr ao lado do cultuado DJ Premier.

Para o músico Marcos Valle, um dos principais nomes da bossa e do jazz no Brasil, a fusão é bem vinda. “Acho ótima. Inclusive, tem vários rappers sampleando minhas músicas, como Jay Z, Kanye West e Pusha T”, diz o carioca de 72 anos.

O capixaba Afonso Abreu também aprova a parceria. “Gosto dessas coisas. É uma maneira de coexistência da música”, destaca o integrante do Afonso Abreu Trio.

Nova Leva

Além de Kendrick, outros artistas estão desvirtuando, no bom sentido, o jazz com as batidas do hip hop. É o caso do BadBadNotGood, Koi Child, Flying Lotus entre tantos outros grupos.

No Brasil, nomes com Rashid e Tássia Reis também têm feito isso há algum tempo. Em seu EP homônimo, lançado há dois anos, Tássia já combinava suas rimas à pulsação rítimica do jazz.

A convite do C2, o pianista Pedro de Alcântara escutou essa nova onda de artistas e compartilhou suas impressões. “O jazz é hoje em dia uma coisa muito ampla e abrangente”, explica “Por isso até estamos falando disso aqui porque, realmente, hoje em dia, jazz e hip hop não há conflito algum”, defende o instrumentista.

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