À frente da banda Legião Urbana, Renato Russo fez três apresentações que marcaram a vida dos capixabas
"Se tacarem coisa no palco, a gente vai embora. Tô avisando, hein? Se querem tacar coisa, vão tacar coisa no governo". Com essa frase, Renato Russo começou a primeira apresentação que a Legião Urbana fez em Vitória. O palco era do Álvares Cabral e o dia, 13 de dezembro de 1986.
A banda já fazia sucesso em todo o Brasil há dois anos e os fãs capixabas, cansados de esperar por uma apresentação da Legião Urbana, lotaram o ginásio. Apesar dos diversos problemas de áudio, nada pode abalar Renato ou o público no show, anunciado como o mais importante do ano.
O vocalista hipnotizou o público com suas reações e gestos inesperados, mãos performáticas e voz solta. "Renato é um dos melhores trunfos do Legião Urbana", escreveu a crítica do Caderno Dois, de A GAZETA, no dia seguinte ao espetáculo.
"Vocês são joia, e eu sou gay".
Cinco anos depois, a Legião voltou a Vitória para chocar. Desta vez em uma apresentação com 24 músicas, sendo todas as 11 do álbum mais recente da época, o Quatro Estações.
Ainda mais polêmico, Renato Russo fez inúmeras críticas sociais entre uma canção e outra, homenageou Cazuza, falou sobre Aids e de sua sexualidade. Ele caiu no chão, se arrastou, pulou até suar, distribuiu beijos e gestos obscenos, para delírio dos fãs.
Ele só não cantou Faroeste Caboclo, apesar dos insistentes gritos da plateia. Mas nada que apagasse a grande catarse coletiva dos milhares de presentes no Álvares Cabral.
"Vamos demitir o engenheiro de som"
Em 9 de setembro de 1994, Renato Russo pisou pela última vez nos palcos capixabas à frente da banda Legião Urbana.
Dessa vez, o som mal equalizado incomodou o vocalista, que parou várias vezes para pedir a redução dos graves. Apesar do problema, o sucesso ainda era garantido, afinal a Legião já era uma banda de sucesso havia mais de dez anos.
Na apresentação, lotada como sempre, Renato teve que parar pelo menos duas vezes para interromper as brigas no meio do público.
Novamente no final, o público clamou por Faroeste Caboclo e não foi atendido. Dessa vez, Renato explicou que havia parado de cantar músicas que o trouxessem recordações ruins.
Essa foi a última vez que os capixabas puderam testemunhar a energia de Renato Russo. O cantor morreu dois anos depois, devido às complicações causadas pelo HIV. Amigos de Renato afirmam que ele contraiu a doença após se envolver com um rapaz, em 1989.
Como integrante da Legião Urbana, Renato lançou oito álbuns de estúdio, cinco álbuns ao vivo, alguns lançados postumamente e diversos contos.