Filme "Dunkirk" inicia a corrida rumo ao Oscar 2018

Produção do diretor Christopher Nolan mostra a tensão da guerra com foco nos pequenos acontecimentos

Publicado em 27/07/2017 às 10h04

Atualizado em 27/07/2017 às 15h30

Rafael Braz

rbraz@redegazeta.com.br

Filme acompanha drama de soldados cercados em praia francesa
Foto: Warner/Divulgação
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Por mais que não pareça, existe uma grande diferença entre um filme pretensioso e um ambicioso. “Interestelar” (2014), de Christopher Nolan, se encaixa na primeira categoria. A boa ficção científica do cultuado cineasta toca em assuntos ousados como uma quinta dimensão, física quântica, Teoria da Relatividade, buracos de minhoca etc., mas, embalado em uma roupagem pop e em um roteiro apenas OK, acaba resumindo tudo ao “poder do amor”. Simplificando: apesar de um bom filme, “Interestelar” é bastante pretensioso, uma obra que pegou carona no trabalho anterior do diretor – o ótimo “A Origem” (2012) – e ganhou fãs fiéis (e raivosos).

Isto posto, “Dunkirk”, filme dirigido pelo mesmo Christopher Nolan e que estreia hoje nos cinemas, é um projeto bem diferente de “Interestelar” – e talvez um dos filmes mais ambiciosos do cinema recente, e não há nada de errado nisso.

O filme conta a histórica de cerca de 400 mil soldados britânicos e aliados que foram encurralados por tropas alemãs nas praias do Norte da França – uma delas Dunquerque (que dá título ao filme). À época, a coroa britânica convocou embarcações civis para auxiliar na extração dos soldados, tanto por prezar pelas vidas deles quanto para proteger Londres de uma possível invasão das tropas de Hitler.

Ao contrário de filmes como “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) e “Até o Último Homem” (2016), “Dunkirk” não traz corpos amputados ou combates quase selvagens, o foco do filme de Nolan é a sobrevivência – toda a tensão é construída no medo dos personagens de encararem o que os cerca.

Narrativa

O roteiro é filmado em três frontes cujas histórias transcorrem em tempos diferentes – soldados na praia (uma semana), um barco de resgate (um dia) e um piloto de caça (uma hora). Assim, Nolan repete recurso que já mostrou dominar com maestria em seus filmes anteriores: ele conta, simultaneamente, histórias que têm seu próprio tempo e suas próprias urgências. Todas as tramas, claro, se encontram; afinal, se tem algo que Nolan domina é a narrativa e a montagem paralela.

Por mais que cause alguma confusão ao público (nada perto de “A Origem”, por exemplo), isso possibilita que o filme tenha alguns clímax espalhados durante seus 106 minutos de projeção, mas Nolan não perde a mão. 

Ao contrário de nomes como Michael Bay, que acha que quanto mais informação melhor, o cineasta sabe muito bem intercalar o silêncio sepulcral e o som de um relógio, com os barulhos ensurdecedores da guerra. Ainda, a trilha sonora de Hanz Zimmer deixa o clima sempre tenso, com um constante crescendo que deixa o espectador à espera de um grande acontecimento.

Tecnicamente o filme é impecável e feito para ser assistido na tela grande. Ele faz ótimo proveito dos recursos visuais e sonoros para ajudar a contar a história.

Com um elenco de rostos conhecidos, mas sem um grande astro, “Dunkirk” tem em seu diretor seu grande protagonista. Nolan reconta fatos históricos como espetáculo e dá força aos pequenos atos – novamente, não há nada de errado nisso. O resultado é uma experiência cinematográfica incrível e que dá início à corrida pelo Oscar 2018.

 

Dunkirk

Drama/guerra. (Idem, EUA/Holanda/França/Reino Unido, 2017. 106min.)

Direção: Christopher Nolan.

Elenco: Fionn Whitehead, Damien Bonnard, Aneurin Barnard. Harry Styles, Mark Rylance, Tom Hardy, Jack Lowden, Kenneth Branagh, Cillian Murphy, Miranda Nolan.

Cotação:  5/5

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