Caio Fernando Abreu tem obra reeditada
Morto em 1996, autor se tornou símbolo da literatura urbana
Onze entre dez matérias sobre a reedição das obras de Caio Fernando Abreu têm no título o quase prefixo “sucesso na internet” – ou, em outros casos, a expressão dá o ar da graça já no primeiro parágrafo. O ensejo é reflexo não só da descoberta do público jovem (maioria nas redes sociais) pela literatura do gaúcho nos últimos anos, mas da atualidade de Abreu, escritor falecido em 1996, em decorrência da Aids, e autor de obras que insistem em não morrer.
Não só nas frases fora de contexto reside a força de Caio Fernando Abreu: é autor de obras curtas, mas densas em conteúdo e linguagem – vocabulário extenso, oralidade, fluxo de consciência –, tanto nos contos e nas crônicas quanto nos romances. Desde o ano passado, a editora Nova Fronteira vem lançando seus livros. Até agora são nove: “Limite Branco”, “Onde Andará Dulce Veiga?”, “Pequenas Epifanias”, a trilogia “O Essencial das Décadas de 1970, 1980 e 1990”, “Os Dragões Não Conhecem o Paraísa”, “Pedras de Calcutá” e “Morangos Mofados”. Falta apenas “O Teatro Completo”, que sai em breve, e uma adaptação de “Dulce Veiga” em quadrinhos, de Arnaldo Branco e André Freitas. Também a L&PM resolveu apostar em Abreu neste 2015. A editora vai relançar cinco títulos do gaúcho: “Ovelhas Negras”, “Triângulo das Águas”, “O Ovo Apunhalado”, “Fragmentos” e um volume reunindo seus últimos três livros. No ano passado, aliás, foram lançados dois documentário inspirados na trajetória de Abreu: “Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes”, de Bruno Polidoro e Cacá Nazario, e “Para Sempre Teu Caio F.”, de Candé Salles. Mas o que faz deste gaúcho um autor tão apreciado por editoras e público? Paula Dip, amiga de Abreu e autora da biografia “Para Sempre Teu, Caio F.” – inspiração do documentário homônimo –, justifica a atenção a partir dos temas tocados pelo amigo. “Seu texto tocou em circunstâncias humanas, em questões de vida e morte, que sempre estarão presentes em nossa vida. Caio falava do amor e da falta do amor com uma entrega rara”, diz. A oralidade e o ritmo vertiginoso que o texto de Abreu não raro adquiria, Paula Dip pontua, derivavam imediatamente da vivência do autor, símbolo de uma geração que viveu a contracultura e as liberações que dela saíram. Naquela época, o gaúcho já escrevia muita ficção, embora trabalhasse como jornalista durante o dia para ganhar a vida. “Acompanhávamos essa vocação dele para a escrita sem imaginar que ele se tornaria, nos anos 2000, um ícone da literatura urbana no Brasil. Ele era muito atento aos amigos, nos estimulava a escrever, nos mostrava seus textos”, lembra Paula. “Ele dizia que gostaria de ser amado por alguma coisa que escreveu – um desejo que acabou se realizando.” Nos anos de ebulição criativa, porém, o reconhecimento não veio como Caio Fernando Abreu esperava. Paula Dip conheceu o amigo em 1979, quando ele escrevia “Morangos Mofados”. O livro fez certo sucesso logo depois de lançado, mas não o suficiente para alavancar a carreira do autor. “Ele sofria com isso. Sempre se sentiu maltratado pelos editores e críticos. Ele nunca conseguiu sobreviver de literatura, e isso o incomodava muito”, lembra.
Obras reeditadas (Editora Nova Fronteira)
Os Dragões Não Conhecem o Paraíso Vencedor do prêmio Jabuti em 1988, o livro de contos tem 13 histórias independentes, mas que giram em torno do amor e seus desdobramentos – alegria, medo, loucura, abandono e memória. Quanto: R$ 39,90. Pequenas Epifanias Nesta obra, o leitor, como promete o título, consegue enxergar as iluminações impelidas por Caio Fernando Abreu em uma série de crônicas sobre vários assuntos. Quanto: R$ 39,90. Limite Branco Escrito em 1967 e publicado pela primeira vez em 1970, o primeiro romance do autor já antecipava as angústias que dominariam toda a sua obra posterior, repleta de descobertas e decepções. Quanto: 29,90. Onde Andará Dulce Veiga? Nos universos da redação jornalística e da música popular dos anos 1980, a obra desvenda o desejo reprimido e o tesão liberado, a convivência com um mundo opressivo e a maneira de fugir dele. É a segunda incursão do autor pelo romance. Quanto: R$ 34,90. Pedras de Calcutá Escrito para a geração que cresceu amordaçada pela repressão política, o livro traz contos amadurecidos. São histórias sobre a hesitação, a espera da morte, o preconceito e a paranoia. Quanto: R$ 29,90. O Essencial das Décadas de 1970, 1980 e 1990 Dividida em três volumes, a série reúne contos, poemas, correspondências, peça de teatro e fragmentos da produção de Caio Fernando Abreu ao longo dos anos. Quanto: R$ 39,90 (cada volume). Morangos Mofados Aqui lemos um Caio Fernando Abreu maduro, um contista de extrema sensibilidade e riqueza formal, ora cadenciando o ritmo das palavras, ora utilizando o recurso do fluxo de consciência. Livro mais importante e mais famoso do autor, “Morangos Mofados” perscruta as entranhas do ser humano. Quanto: R$ 34,90.