Filme capixaba está em circuito comercial Brasil afora

Publicado em 27/04/2016 às 17h07

Atualizado em 30/04/2016 às 15h31

Rafael Braz

rbraz@redegazeta.com.br

No ad for you

A referência a Shakespeare no título de “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” foge somente do que é visto em tela no longa do cineasta capixaba Rodrigo de Oliveira. A obra do bardo inglês pode ser vista como referência tanto na maneira teatral com que o filme é conduzido – com forte marcação de cena e diálogos por vezes artificiais –, quanto em características presentes na terceira fase da produção do dramaturgo, que se destacou por arcos ainda trágicos e dramáticos, mas já mais conciliatórios do que seus trabalhos anteriores.

Filmado em Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, o filme mostra a evolução de Rodrigo, que também assina o roteiro do projeto. Em seu segundo filme – o primeiro, “Horas Vulgares” (2011), dirigido em parceria com Vitor Graize – o cineasta tem mais liberdade para trabalhar suas influências e imprimir sua assinatura; talvez seja justamente por isso que “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” pareça tão pessoal e cheio de significados.

Na trama, João (Alexandre Cioletti), um jovem músico, decide por um autoimposto exílio que, a princípio, não é explicado. Ele deixa para trás Flora (Sara Antunes), sua esposa, grávida, que o incentiva a partir, e Dona Helena (Margareth Galvão).

Em meio à natureza, solitário, João divide seu tempo entre o violão e ao trabalho em colheitas, mas as coisas mudam quando Max (Rômulo Braga), seu melhor amigo, filho de Dona Helena e ex-namorado de Flora, antes dado como morto, aparece em sua casa.

A ideia nasceu quando o diretor ainda filmava “As Horas Vulgares”. “O ‘Horas” é um filme sobre amigos que vão embora... Enquanto a gente filmava eu pensava no que aconteceria se um desses amigos retornasse, o que aconteceria nesse confronto”, conta Rodrigo, em entrevista ao C2.

A ideia cresceu e ganhou contornos mais pessoais. “É um filme sobre minha relação com o meu pai. É autobiográfico mesmo que nada do que se vê em tela tenha acontecido na minha vida”, completa Rodrigo, dando valiosa dica para a compreensão do roteiro.

A mise-en-scène que cerca João e Max é um dos atrativos do filme. Os amigos têm seus passos ensaiados, o que reforça o já citado aspecto teatral. A cada diálogo o espectador se questiona o significado daquilo; nada parece ser por acaso. As mulheres, por exemplo, segundo o próprio cineasta, funcionam como um oráculo – a beleza está nos detalhes.

Ritmo

A escolha de brincar com os significados e as aparências faz de “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” um filme cadenciado. A cadência, enquanto funciona para o desenvolvimento da trama e dos personagens, também atrapalha o ritmo do longa. Em duas horas de projeção, o filme se estende um pouco mais do que deveria nos dois primeiros atos, mas engrena a partir da ótima cena em que João e Max brigam no campo. A sequência, que marca a mudança de ritmo do filme, muda também o destino daquelas pessoas e a compreensão que o público faz delas.

“Ela (a sequência) representa uma ruptura não só no filme, mas na vida dos dois”, explica o diretor, que não nega a forte influência do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul (“Mal dos Trópicos”) e de realizadores marginais brasileiros dos anos 1970 como Júlio Bressane (“O Anjo Nasceu”). “São caras que, assim como nós, faziam filmes de ficção com muito pouco. O cinema brasileiro da minha geração tem medo de contar histórias a partir da ficção. Algumas coisas na trajetória desses personagens e da minha relação com o cinema que não se resolvem só com conversa, se faz com o senso do espetáculo”, pondera Rodrigo.

O filme, apesar do “senso de espetáculo”, passa longe da fácil digestão dos grandes lançamentos, o que não é necessariamente um problema. Sem grandes concessões e totalmente autoral, “Teobaldo Morto, Romeu Exilado”, é o retrato da mistura entre o cinema brasileiro “pop” e o marginal.

Teobaldo morto, Romeu exilado

Drama. (Brasil, 2014. 118min.)

Direção : Rodrigo de Oliveira.

Elenco: Alexandre Cioletti, Rômulo Braga, Sara Antunes, Erick Martíncues, Margareth Galvão.

Compartilhe