"Blade Runner 2049" faz a espera valer a pena
Continuação do filme de 1982 traz nova trama, mas continua a explorar o universo criado há 35 anos
Lançado em 1982, “Blade Runner”, de Ridley Scott, foi um tremendo fracasso comercial. A falta de confiança do estúdio no trabalho do diretor (cenas foram modificadas, uma narração incluída, um final diferente...) e a concorrência nas bilheterias com “E.T: O Extraterrestre”, de Steven Spielberg, não ajudaram. Acontece que, com o passar do tempo, a obra de Scott foi ganhando relevância e se tornou “cult”. O interesse do público fez com que o diretor retornasse ao filme algumas vezes – ele lançou um director’s cut, em 1992, e uma versão “final”, em 2007.
Uma continuação sempre foi discutida, mas demorou a beça para sair do papel: 35 anos, para ser mais exato. A notícia boa é que “Blade Runner 2049” está entre nós desde a última quinta-feira. O filme do canadense Denis Villeneuve (“Sicário” e “A Chegada”, confira entrevista com o diretor na página 3) felizmente passa longe de ser um remake disfarçado – “2049” é uma continuação direta de seu antecessor e exige que o espectador tenha assistido ao filme de 1982.
2049
Trinta anos depois de nos despedirmos de Rick Deckard (Harrison Ford), o mundo se transformou, mas a relação entre humanos e replicantes continua complicada. A Tyrell Corporation deu lugar à Wallace, comandada por Niander Wallace (Jared Leto), que criou uma geração de replicantes obedientes, os Nexus 8, ou seja, os escravos perfeitos. Com isso, os obsoletos – e “rebeldes” – Nexus 7 estão sendo caçados e “aposentados” por Blade Runners como K (Ryan Gosling).
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Em uma missão, K se depara com algo que pode ser maior do que ele imagina. As investigações levam a um caso antigo e a coisas até então inimagináveis.
Dizer muito sobre o filme pode estragar a experiência, mas, como todos sabem que Deckard está de volta, não é spoiler dizer que os caminhos de K e do ex-agente se cruzam em algum momento.
RESPOSTAS
Tal qual o primeiro filme, “2049” não esfrega soluções ou respostas na cara do espectador. Ao invés disso, o filme de Villeneuve caminha devagar, sem pressa de apresentar problemas e resoluções. Isso possibilita que K seja bem desenvolvido e faz com que o público mergulhe naquele universo futurista
O mundo construído por Philip K. Dick (no conto que deu origem ao filme) e Ridley Scott ganha novos contornos com a tecnologia, mas não parece artificial. “2049” sai do cenário claustrofóbico do primeiro filme e leva a história para cidades abandonadas, fazendas e até um deserto.
O filme faz escolhas narrativas interessantes e até ousadas. A discussão do que é ser “humano” continua presente, assim como aquela sobre Deckard ser ou não um replicante. Justamente por isso é incrível a maneira como o filme ganha calor, sujeira e humanidade quando Harrison Ford surge em tela. Juntos, Deckard e K protagonizam algumas das melhores cenas do longa (com alguns hologramas de companhia).
Ao longo das quase três horas de filme, o público é levado a contemplar os belos cenários fotografados por Roger Deakins e a questionar sua própria humanidade. “Blade Runner” não é e nem nunca foi sobre ação ou sobre robôs, mas sim sobre solidão e afeto em tempos modernos.
Blade Runner 2049
Ficção científica. (Idem, EUA/ Reino Unido/ Canadá, 2017. 163min.)
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Harrison Ford, Ryan Gosling, Ana de Armas. Jared Leto, Robin Wright, Sylvia Hoeks.
Cotação: 5/5