As grandes questões da pequena Mafalda

Coleção mostra atualidade da personagem cinquentona

Publicado em 02/02/2015 às 13h42

Mafalda

À primeira vista, Mafalda é uma criança comum, curiosa a respeito de algumas questões e até um pouco fora dos padrões de beleza. Mas já na primeira conversa com a personagem do argentino Quino, dá para perceber que a baixinha guarda na cabeça um arcabouço de ideias profundas, habitualmente permitidas apenas a um adulto pensante. O adulto, é claro, é Quino, mas a simplicidade e a sinceridade do discurso de Mafalda acabam perfeitas, de fato, na boca supostamente ingênua de uma criança.

E essa criança, veja só, acaba de completar 50 anos de existência, ainda causando impacto na vida das pessoas e angariando de forma sistemática um público apaixonado por suas alfinetadas. Para comemorar o aniversário da personagem, a editora Martins Fontes lançou uma série de livros com as reflexões da garotinha, intitulada “A Pequena Filosofia da Mafalda”. A coleção tem quatro volumes: “Assim vai o Mundo!”, “Como vai o Planeta?”, “Guerra e Paz” e “Injustiça”.

Curioso que, embora o desenho tenha sido criada em 1964, Quino abandonou Mafalda poucos anos depois, em 1973 – ele resgatou a personagem vez ou outra nos anos seguintes, mas a trama da garota já estava terminada. Por que, então, o interesse não arrefeceu? Paulo Ramos, autor de “Bienvenidos - Um Passeio pelos Quadrinhos Argentinos”, diz que a razão maior é o leque generoso de temas abordados por Mafalda.

“Ela é um retrato fiel da sociedade de classe média sul-americana das décadas de 1960 e 1970. Mas também fala de muitos aspectos fora do período, como o papel dos veículos de comunicação, a massificação da cultura, os Beatles”, explica Ramos, que não acredita que houve uma redescoberta de Mafalda por conta das redes sociais. “Ela já tinha popularidade. É mais conhecida no Brasil do que muitos personagens brasileiros. A internet só refletiu o imaginário das pessoas.”

Paulo Ramos lembra que Mafalda faz parte das personalidades argentinas que “morreram” no apogeu, a exemplo de Evita Perón, Che Guevara e Carlos Gardel. “Isso é cultural na argentina. Um personagem importante na vida do país, que sai de cena no auge, tende a ser cultuado.”

Fãs

Flávia Sanino não era nem nascida quando Mafalda parou de circular. A coordenadora de trademarketing de 32 anos conheceu o desenho por meio dos pais, em um livro de tirinhas sem cor. A partir daí, virou fã da garota pensativa e até tem foto com ela, no famoso banquinho de Buenos Aires com uma estátua da criatura de Quino. “Ela sempre tem uma resposta que você nunca pensou. E ela fala de um jeito que não é politicamente correto”, diz.

A relações públicas Caroline Arnold, 29, é outra apaixonada por Mafalda. Ela fez, inclusive, uma tatuagem da garotinha no ombro. “Enquanto houver problemas sociais, religiosos ou econômicos, a Mafalda vai ser necessária e super contemporânea. Por mais que mudem os problemas do mundo, a resposta para eles é a mesma: um pouco mais de consciência e tolerância. Arrisco a dizer que a Mafalda é socialista (risos).”

 

Confira

A Pequena Filosofia da Mafalda

Quino
Coleção de desenhos da personagem em quatro volumes: “Assim vai o Mundo!”, “Como vai o Planeta?”, “Guerra e Paz” e “Injustiça”. Editora Martins Fontes. Quanto: R$ 21,90 (cada).

Compartilhe

Mais no Gazeta Online