Viação Itapemirim: a queda de um império


De potência nacional a empresa endividada: o que ocorreu?

Ônibus da Viação Itapemirim
Ônibus da Viação Itapemirim
Foto: Divulgação

O ano era 1946. O jovem Camilo Cola voltava a Cachoeiro de Itapemirim após lutar na Segunda Guerra Mundial, na Itália, como integrante da Força Expedicionária Brasileira. Com o dinheiro ganho em território italiano, comprou um Ford Hercules e começou a transportar cargas e passageiros. Como os soldados tinham prioridade na compra desses veículos, estimulou colegas de front a comprá-los e colocá-los à venda, ganhando um bom dinheiro.

“Se eu for contar tudo, vamos precisar de outro encontro”, brinca Camilo Cola, sobre a origem do império que fundou: o grupo Itapemirim. Ele conta que, em 1948, surgia a Empresa de Transporte Autos - ETA, que tinha um único ônibus entre Castelo e Cachoeiro. Em 1950, a frota já era de dez veículos. A empresa foi crescendo e, em 4 de julho de 1953, nascia, em Cachoeiro, a Viação Itapemirim Ltda, com 16 ônibus. “A empresa foi expandindo para o Sul e o Norte do Estado, e, na década de 1960, foi para o Nordeste. Quando entrei, há 42 anos, a Itapemirim fazia a ligação entre São Paulo, Espírito Santo e o Nordeste”, lembra Camilo Cola Filho, o Camilinho, ex-presidente da companhia.

O estilo empreendedor de Camilo Cola levou a empresa a dobrar quando, em 1972, incorporou uma das grandes empresas do país, a Nossa Senhora da Penha. De repente, a operação da Itapemirim alcançava praticamente todo o Sul brasileiro, chegando ao Uruguai.

“A Itapemirim tem uma tradição grande de bons serviços prestados. Me sinto responsável pelos funcionários e pela qualidade”
Camilo Cola, fundador da Itapemirim

“Nos anos 1980, chegamos ao nosso ápice. Compramos a linha Rio-São Paulo e nos tornamos a 14ª montadora do Brasil, fabricando nossos ônibus, a marca Tecnobus. A Transportadora Itapemirim, de cargas gerais, também cresceu. Já na década de 1990, entramos no serviço aéreo de transporte de carga expressa. Foi uma época bonita da empresa”, conta Camilinho.

Em seus tempos áureos, a Viação Itapemirim figurava entre uma das maiores da América Latina. Atualmente é uma empresa endividada, em recuperação judicial, e não pertence mais à família Cola, que vendeu o controle acionário da companhia no final de 2016. Segundo o ex-presidente da empresa, Camilo Cola Filho, a decadência é resultado de uma combinação de fatores: “No início dos anos 2000, começamos a sofrer muito com transporte clandestino, principalmente no Nordeste. A fiscalização era fraca e havia lugares, como Pará e Maranhão, em que o transporte pirata ocupava 60% do mercado”.

Outro ponto foi a queda nos preços das passagens aéreas e incentivos fiscais dados às empresas de aviação, a partir de 2003. Somado a isso, pontua Camilinho, estão leis aprovadas na década que deram gratuidade a estudantes que atestem pobreza e a idosos, por exemplo. “A margem do setor piorou, e, em 2008, veio a crise internacional”, conta.

No entanto, o principal problema que atingiu a empresa foi um impasse na regulação pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que começou em 2008 e só foi resolvido em 2015. As concessões foram substituídas por um modelo de autorização por linhas. A demora, no entanto, provocou queda no faturamento das empresas, enquanto que o crédito ficou mais caro.

“Começamos a vender empresas para pagar outros negócios. Até 2008, o nosso passivo tributário era zero. Com a crise internacional, a empresa deixou de pagar alguns impostos e as multas e juros são altos. Sem certidão negativa, o crédito ficou mais caro e, se as vendas não reagiam, não conseguíamos cobrir”, explica Camilinho.

Em junho de 2015, com a definição da ANTT, a Itapemirim repassou, por R$ 100 milhões, 68 das 118 linhas que operava à Kaissara, empresa que detinha uma linha, cujos sócios eram funcionários da Itapemirim.

Linha do tempo - Viação Itapemirim
Linha do tempo - Viação Itapemirim
Foto: Infografia / Genildo

Filha de Camilinho, Andréa Cola reconhece que houve problemas na administração dos negócios. Ela conta que tentou profissionalizar a gestão, mas atritos com outros diretores impediram de seguir com o plano. “Tinha muitos atritos profissionais com a diretoria, e decidi sair. Havia diretor que estava na empresa antes de eu nascer. Cheguei a brigar com meu pai”, conta.

Diante de um quadro de dívidas trabalhistas e com fornecedores da ordem de R$ 330 milhões e um passivo tributário de R$ 1 bilhão, a empresa entrou, em março de 2016, em recuperação judicial. O processo ainda está correndo e resultou, até agora, no negócio com a Kaissara desfeito e na venda do grupo Itapemirim para investidores de São Paulo. Mas esse não é o ponto final da história. Alegando ter sido vítima de um golpe, a família Cola tenta na Justiça retomar o controle da empresa, enquanto que os novos sócios argumentam que as tratativas foram legais.

 

Confira uma galeria com fotos da história da Itapemirim


 

Viação Itapemirim: a queda de um império


Novos sócios da Itapemirim na mira da Justiça em São Paulo

Donos do grupo Itapemirim respondem a vários processos

Sidnei Piva e Camila Valdivia, sócios da Itapemirim, e Milton Rodrigues, operacional da empresa
Sidnei Piva e Camila Valdivia, sócios da Itapemirim, e Milton Rodrigues, operacional da empresa

A venda da Viação Itapemirim da família Cola para os novos sócios, os empresários de São Paulo Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia, virou uma briga na Justiça. Enquanto os antigos donos os acusam de fraude e pedem a empresa de volta, os atuais controladores se defendem, mostram documentos e alegam que agiram estritamente dentro da lei, conforme A GAZETA revelou numa matéria exclusiva publicada na edição de ontem.

Porém, não é só no Espírito Santo que eles estão envolvidos em acusações de fraude. Em São Paulo, há diversos processos contra os dois. Em Goiás, o administrador judicial de uma empresa que eles compraram aponta suspeitas.

Um dos processos é relacionado à venda da empresa Fábrica de Grampos Aço, de São Paulo. O contrato foi firmado através de uma empresa de Camila e Sidnei, chamada Gitan Incorporação e Construção. Na ação, os ex-donos Fabio Fabris e Leo Marconi afirmam que os atuais donos da Itapemirim efetuariam o pagamento de passivo trabalhista, fornecedores, impostos e dívidas bancárias. No entanto, eles alegaram que as obrigações não foram honradas e que Fabio e Leo estariam recebendo intimações e citações.

Na ação, de 2016, disseram também que o maquinário da empresa havia sido transferido para outra empresa de Camila e Sidnei, a Matrizaria e Estamparia Morillo. Atualmente, a Fábrica e a Morillo estão em nome do mesmo sócio: Geraldo Magela Teixeira da Silva.

Outro processo que recai contra Sidnei é uma condenação de 2013 a pagamento de indenização por danos morais de R$ 7 mil a José Leonardo Nunes, também em São Paulo. Nunes afirma que descobriu que teve uma empresa aberta em seu nome quando foi fazer uma compra e estava negativado. Ele afirma que sua assinatura foi falsificada por Sidnei e por José Carlos de Souza. Houve apelação, ainda sem resultado.

Sidnei e Camila também compraram a empresa de transporte Transbrasiliana, de Goiás, junto com o empresário Milton Rodrigues Junior, que também é colaborador na Itapemirim. Ele, inclusive, esteve presente em coletiva dos sócios para anunciar investimentos, em abril deste ano.

O administrador judicial da empresa, Luis Claudio Montoro Mendes, diz em um relatório que concordou com a venda das cotas aos sócios da Itapemirim. Em outro relatório, diz que viu algumas suspeitas, como o pagamento de R$ 267 mil em nota fiscal à empresa Delta X, a título de prestação de serviços que, segundo o relatório, não especifica proposta de trabalho.

Na Justiça do Trabalho, Camila e Sidnei respondem a mais de 100 processos relacionados a suas empresas. Já na Justiça de São Paulo, são mais de 50 ações, várias relacionadas à execução extrajudicial ou fiscal, ou seja, cobranças. Em alguns dos processos, há decisões em que consta que não foram localizados bens em nome dos réus a serem executados.

Em relação a execuções fiscais, um dos maiores processos é do município de Barueri (SP), que cobra R$ 30 milhões em tributos da Procarta Serviços, de propriedade dos atuais sócios da Itapemirim. Na ação, deste ano, a prefeitura diz que causou estranheza “o fato de uma empresa do porte da ré nunca possuir ativos financeiros em suas contas bancárias para que se pudesse efetuar a penhora on-line”.

Bloqueio

O administrador judicial da Transbrasiliana, Luis Claudio Montoro Mendes, pede, em seu relatório à Justiça, restrição de venda aos veículos da empresa. A empresa está em recuperação judicial e foi comprada por Camila Valdivia e Sidnei Piva em janeiro.

Isso porque, segundo ele, de 26 ônibus comprados pela Transbrasiliana, em fevereiro de 2017, pelo menos quatro estavam na garagem da Itapemirim. A justificativa é que isso pode prejudicar o pagamento de credores da Transbrasiliana.

Além disso, o administrador afirma que há “confusão” entre a Tranbrasiliana e a Itapemirim, já que são usados a mesma identidade visual nos ônibus, os mesmos guichês, garagens e abastecimento dos veículos nas bases da Itapemirim.

Segundo o administrador, a Fábrica de Grampos Aço foi uma das empresas que recebeu valores – R$ 645 mil – da venda de um dos imóveis do grupo da Transbrasiliana. Mendes diz também que, segundo o Sindicato dos Rodoviários de Marabá, no Pará, havia funcionários em férias sem receber verbas trabalhistas, segundo relatório de fevereiro.

Questionamento

Durante uma coletiva para apresentar investimentos, o empresário Milton Rodrigues Junior apareceu ao lado de Camila Valdívia e Sidnei Piva, o que despertou a desconfiança nos ex-donos da Itapemirim, que o acusam de ser um sócio oculto.

Milton Rodrigues é dono de 14 empresas em Santa Catarina, Rondônia, Goiás, Espírito Santo e São Paulo. Ele não é sócio da Itapemirim, mas tem uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), constituída em fevereiro deste ano com Camila e Sidnei, com endereço registrado na sede da Viação Itapemirim, em Cachoeiro.

O outro lado

Por e-mail, os sócios da Itapemirim, Camila Valdívia e Sidnei Piva, esclareceram as acusações. Segundo eles, sobre os processos a que os dois respondem, “o número é considerado ínfimo quando comparado aos processos herdados pelo Grupo Itapemirim” e que “todos os débitos das empresas estão sendo devidamente pagos através de acordos”.

Já em relação à Matrizaria Morillo e à Fabrica de Grampos Aço, eles informam que “essas empresas não fazem mais parte do grupo empresarial”. Sobre o conflito com Fabio Fabris e Leo Marconi, eles dizem se tratar “do pagamento mais o esclarecimento do valor no importe de R$ 4.000.000 em duplicatas frias emitidas pelos antigos sócios e descontadas em banco. A matéria está sob júdice e, sendo reconhecida a compensação, veremos quem deve a quem”.

A Viação Itapemirim também destaca que Milton Rodrigues não é sócio da empresa. Mas, “como ele possui experiência no ramo, atua como colaborador na área operacional da empresa”. Ainda afirma que “a SPE foi constituída para tentar canalizar investimentos”.

Em relação ao processo de danos morais contra Sidnei, informam não se tratar dele, mas possivelmente de um homônimo. Já sobre o débito com a Prefeitura de Barueri, os sócios afirmam ser dos antigos donos da empresa e que já foi parcelados. Por fim, informam que as dúvidas da administração judicial da Transbrasiliana foram esclarecidas, “de tal maneira que não existe nenhuma dúvida quanto à lisura dos atos praticados na gestão”.

 

Viação Itapemirim: a queda de um império


Funcionários da Itapemirim estão com salários atrasados

Reivindicando pagamento em dia, trabalhadores atrasaram saída de ônibus

Viação Itapemirim
Viação Itapemirim
Foto: Acervo Itapemirim

Atrasos salariais e incerteza sobre o futuro da empresa. Essa virou, segundo sindicatos, a rotina dos funcionários da Viação Itapemirim, que já foi uma das maiores da América Latina e, hoje, em recuperação judicial, acumula dívidas e é alvo de briga na Justiça entre antigos e novos sócios.

Desde março de 2016, a empresa está em recuperação judicial, em meio a dívidas da ordem de R$ 330 milhões com processos trabalhistas e fornecedores e de R$ 1 bilhão em tributos. Entre novembro e dezembro, a empresa foi vendida e o controle acionário deixou de ser da família do fundador Camilo Cola, passando para dois empresários, Camila Valdívia e Sidnei Piva.

Os funcionários, que já chegaram a ficar com seus salários atrasados por quatro meses em 2016 – o que havia sido regularizado com a transferência para os novos sócios –, voltaram a sofrer com o mesmo problema a partir de maio deste ano. A demora no pagamento atinge principalmente setores como administrativo, manutenção e limpeza, destaca o diretor do Sindiroviários-ES, Uedilson da Vitória.

“Até março, a empresa estava pagando tudo certinho, em dia. Só que, a partir de março, a coisa desandou. Em maio, os salários foram pagos entre os dias 10 e 15. Em abril, também atrasou. Neste mês, a empresa pagou os motoristas no dia 8. Só que o pessoal interno da empresa não recebeu até hoje. Os caras que trabalham na bomba, mecânico, quem limpa ônibus, ninguém foi pago”, afirma.

Neste mês, a empresa pagou os motoristas no dia 8. Só que o pessoal interno da empresa não recebeu até hoje. Os caras que trabalham na bomba, mecânico, quem limpa ônibus, ninguém foi pago
Uedilson da Vitória, diretor do Sindiroviários-ES

Além disso, Uedilson explica que o tíquete-alimentação e o vale-transporte desses funcionários também estão atrasados. “Os motoristas foram os que receberam tudo em dia. Os tíquetes que estavam dois meses atrasados foram quitados”, comenta.

Na sexta-feira, 9, o diretor conta que foi feita uma paralisação, na Rodoviária de Vitória, em protesto pelo atraso dos salários e pela demissão por justa causa que um funcionário levou e que o sindicato não concordou. “O ônibus que ia sair às 15h30 da rodoviária saiu às 18 horas por conta dessa paralisação”, diz.

Segundo ele, demissões em massa não estão acontecendo, mas o atraso de salário deixa os funcionários preocupados.

Em Cachoeiro de Itapemirim, o presidente do Sindimotoristas, Elias Brito Spoladore, conta que a situação não é diferente.

“A informação que a gente tem, conversando com colegas que permanecem na empresa trabalhando, é que eles estão com benefícios relativos a tíquete-alimentação em atraso há dois meses. Ontem (sexta), tive a informação de que estão pagando por setores, e alguns setores ainda estão com salários atrasados”, afirma.

A Viação Itapemirim diz que não há atraso de salários. “A nova gestão assumiu a empresa no dia 1º de novembro de 2016, com quatro meses de salários atrasados. Em 20 dias, a nova gestão regularizou os salários e reativou a alimentação dos funcionários”, esclarece em resposta enviada por e-mail. Além disso, a empresa afirma que, “neste mês, a empresa esta passando por uma mudança de sistema, no sentido de modernização e tecnologia, para maior controle e transparência”, complementa.

Demissões

Além dos atrasos nos salários, os sindicatos denunciam que verbas rescisórias dos funcionários demitidos desde o início de 2016 não têm sido pagas. Os casos estão na Justiça.

Segundo o presidente do Sindimotoristas, Elias Brito Spoladore, os 170 funcionários mandados embora em fevereiro de 2016, antes da recuperação, não receberam nada.

Daquela época para cá, com a empresa já em recuperação judicial, ele explica que vários funcionários foram demitidos e não receberam nada. “Homologamos em torno de 60 rescisões, que também não tiveram os direitos pagos pela empresa corretamente. Este ano, já tiveram outras demissões, principalmente do setor administrativo, que nos procuraram e também não tiveram seus direitos pagos corretamente”, afirma Spoladore.

Homologamos em torno de 60 rescisões, que não tiveram os direitos pagos pela empresa corretamente. Este ano, já tiveram outras demissões, principalmente do administrativo
Elias Spoladore, presidente do Sindimotoristas

O advogado especialista em Recuperação Judicial do escritório Hannud & Velloza Advogados, Vitor May Xavier, explica que todas as cobranças de dívidas contra a empresa ficam em suspenso no período de recuperação judicial. “A empresa não precisa pagar as dívidas existentes até a data do protocolo do pedido. As posteriores, ela tem que pagar”, ressalta ele.

Em relação às rescisões “em aberto, tanto do período da antiga gestão, quanto da nova gestão”, diz a Itapemirim, “a empresa está buscando uma rápida solução para o impasse”. A empresa ainda afirma que “a maior parte das demissões ocorridas trata-se de funcionários que não prestavam serviços para a empresa, e sim diretamente ligados às residências dos antigos sócios”.

Viação Itapemirim: a queda de um império


Grupo diz que auditoria aponta desvios praticados pela família Cola

Novos donos da Itapemirim vão ingressar na Justiça para receber valores

Os novos sócios da Viação Itapemirim, Camila Valdívia e Sidnei Piva, afirmam que, por determinação da Justiça, fizeram uma auditoria nas contas da empresa, analisando documentos fiscais, recibos, planilhas, extratos, entre outros. Segundo o grupo, foi constatada “uma rede de formas de retiradas diversas da empresa”.

Um relatório foi enviado à reportagem por e-mail. Segundo os sócios, trata-se de “auditoria realizada pela renomada Backer Tily Brasil”.

Mas o relatório não contém menção à empresa de auditoria, e conta apenas com a logo da Viação Itapemirim. Consta no documento que ele “pretende resumir os trabalhos realizados pelas áreas Financeira, Contábil, Fiscal, e envolvimento da Auditoria interna da empresa” e que foi realizado “sob a supervisão da técnica jurídica Camila de Souza Valdívia (sócia proprietária), nomeada em ata Diretora Administrativa/Financeira”.

Camila e Piva afirmam que vão cobrar os valores na Justiça. Os sócios informaram por e-mail que foi encontrado o desvio de R$ 120 milhões chamados de mútuos – nome utilizado para as retiradas de dinheiro da empresa, segundo eles.

“Há ainda contabilizado o saque de R$ 56 milhões em nome dos antigos sócios, estes recursos eram desviados para entrega em espécie através de um documento chamado de CTN, para contas no exterior e através de pagamentos efetuados à holding de nome MC Massad Cola Empreendimentos e Participações Ltda”, diz o trecho do e-mail.

No relatório, são apontadas retiradas feitas em forma de vales de diversos locais do país para Camilo Cola Filho, da Itapemirim e da Kaissara. Os valores apontados não são R$ 120 milhões, e sim cerca de R$ 42 milhões entre 2014 e 2016. Entre os documentos enviados pelo grupo para a reportagem, relativos às transferências para a MC Massad Cola, o valor somado, em 6 documentos de dezembro de 2016, não foi de R$ 56 milhões, e sim de R$ 107.500.

Já a conclusão do relatório de auditoria diz que, após recuperação judicial, “foram retirados valores da empresa de diversas maneiras”, “seja através de DOC, TED ou ainda em moeda corrente a título de atender a pessoalidade dos sócios”, e dá outro número: R$ 15,3 milhões. A conclusão também diz que “além destes valores, existem diversas transferências para empresas que eram do grupo econômico”, que contabilizam outro valor, diferente do que foi informado antes, de R$ 322,6 milhões.

O outro lado

Camilo Cola Filho, ex-presidente do Grupo Itapemirim, diz que tais desvios não existem.

"Eu não tenho acesso às informações da auditoria. Só tenho a minha memória e não acredito que exista isso. Eu não tenho conhecimento do que a auditoria diz. Para ser mais preciso, eu necessitaria ter acesso a essas informações. Essas pessoas levaram a empresa por um valor simbólico, não pagaram nada, dizendo que iam assumir as dívidas e que tinham créditos tributários", afirma.

Segundo ele, o negócio sequer foi concluído. "Não era nem para eles estarem em posse da empresa. Não estou pedindo para eles ficarem com o grupo Itapemirim. Se o negócio era tão ruim, por que não nos devolvem a empresa? Eu entendo que eles me passaram a perna. Eu entendo que o negócio não foi concluído e eu quero a empresa de volta".

Ele afirma que se há valores que saíram do caixa, há valores que entraram na empresa. "Entraram mais de R$ 300 milhões, só eu coloquei R$ 100 milhões, entre outros valores que foram investidos na empresa."

Ele diz também que sobre a Kaissara, não pode falar. "Não éramos nós que administrávamos ela. Ela não pertencia ao grupo."

Quanto à máquina de bilhetes, ele diz desconhecer. "A venda de passagens, hoje em dia, é toda feita por sistema eletrônico. É muito difícil fazer esse tipo de operação que eles estão ventilando. O sistema é muito moderno. Não reconheço que tenhamos feito isso, porque o sistema é seguro. Não vejo fidelidade nas informações apresentadas."

Viação Itapemirim: a queda de um império


Briga pelo controle acionário da Itapemirim

Após vender empresas em novembro, família Cola entrou na Justiça para retomar a gestão do grupo

Da esq. para dir.: Andréa Cola, Camilo Centro e Camilo Cola Filho
Da esq. para dir.: Andréa Cola, Camilo Centro e Camilo Cola Filho
Foto: Vitor Jubini

A recuperação judicial e o processo de venda da Itapemirim abriu mais um capítulo na história da empresa. Com acusações mútuas dos antigos e novos sócios, a disputa pelo controle acionário da companhia virou imbróglio jurídico.

Com dívidas trabalhistas e com fornecedores de R$ 336,49 milhões, além de um passivo tributário de R$ 1 bilhão, o grupo Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016. No final do mesmo ano, a família Cola resolveu vender o controle acionário do grupo, que inclui seis empresas (Viação Itapemirim, Transportadora Itapemirim, ITA - Itapemirim Transportes, Imobiliária Bianca, Cola Comercial e Distribuidora e Flecha Turismo Comércio e Indústria) para as empresas SSG Incorporação e Assessoria e CSV Incorporação e Assessoria Empresarial, cujos sócios são Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia.

No negócio firmado, os novos sócios não pagariam valores à família Cola, mas assumiriam todas as dívidas do grupo. Camilo Cola Filho, ex-presidente da empresa, afirma que Sidnei e Camila se apresentavam como empresários que tinham R$ 5 bilhões em créditos tributários, o que iria sanar as contas da empresa.

Firmamos uma declaração que só teria validade se os anexos fossem assinados, mas eles nunca foram
Camilo Cola Filho, ex-presidente da Itapemirim

A família Cola, no entanto, acusa os novos sócios de não terem honrado o acordo. Eles alegam que o processo de compra e venda não é válido, já que não assinaram todos os termos do contrato. De acordo com Filho, no contrato de venda havia anexos que descreveriam os bens que ficariam com a família, como imóveis que são de propriedade da Imobiliária Bianca, detentora do patrimônio dos Cola. “Firmamos uma declaração que só teria validade se os anexos fossem assinados, mas eles nunca foram”.

A família alega que, em dezembro, o juiz da recuperação judicial, Paulino José Lourenço, determinou a transferência do controle acionário das empresas para o grupo e que o patrimônio construído está ameaçado. No entanto, uma escritura pública registrada em maio em cartório de São Paulo do advogado Marcio Mastropietro, responsável pela confecção do contrato de compra e venda, dá conta de que não houve assinatura dos anexos.

Apenas o controle societário da imobiliária não foi repassado a Camila e a Sidnei por causa do espólio da falecida esposa de Camilo Cola, Ignez Massad Cola.

Eles não honram nada, demitiram pessoas e não pagaram verbas rescisórias
Andréa Cola, ex-executiva da Itapemirim e filha de Camilo Cola Filho

De acordo com os ex-donos do grupo Itapemirim, assim que o controle acionário foi transferido, a nova gestão teria começado a demitir sem cumprir obrigações, teria deixado de pagar fornecedores e ainda estaria realizando retiradas diárias dos caixas das empresas, através de notas fiscais frias direcionadas a outras empresas deles, como a Delta X, sediada em São Paulo.

Os Cola ingressaram na Justiça, então, com uma ação para retomar o controle acionário da Itapemirim. O processo terá audiência no dia 23 de junho.

“Traídos”

Os Cola alegam terem sido induzidos a entrar no processo de recuperação judicial por dois profissionais antigos da Itapemirim: Anísio Fioresi, na época diretor financeiro, e o chefe do setor jurídico, Rômulo Barros Silveira. “Anísio está na empresa há 42 anos. A família dele é vizinha da fazenda dos meus avós. Tinha total confiança nele”, frisa Camilo Filho.

Segundo ele, Fioresi e Silveira agiram de má-fé induzindo a família a uma recuperação judicial desnecessária, isolando diretores e incluindo no processo uma empresa sadia, a Imobiliária Bianca. “Com informação privilegiada e procurações, eles se juntaram aos novos sócios para dar um golpe”, diz Filho.

“Com informação privilegiada e procurações, eles se juntaram aos novos sócios para dar um golpe”
Camilo Cola Filho, ex-presidente da Itapemirim

O juiz Paulino José Lourenço foi procurado, através assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, que informou que “o magistrado não concede entrevista sobre processo em curso.”

 

Viação Itapemirim: a queda de um império


Diretores dizem que não indicaram recuperação judicial

Executivos da empresa afirmam que não são traidores e que a empresa iria falir

Garagem de manutenção da Itapemirim
Garagem de manutenção da Itapemirim
Divulgação / Viação Itapemirim

Hoje diretor de novos negócios da Itapemirim, Anísio José Fioresi, que foi diretor financeiro e participou da empresa durante 42 anos na gestão dos Cola, afirmou que não cometeu qualquer ato de traição com a família e diz que não foi mentor da recuperação judicial. Ele afirma que era contra a ideia.

“Todos os documentos, está tudo chancelado pelos acionistas. A decisão da recuperação judicial, eu era contra naquele momento. Não concordava porque a empresa não estava preparada para isso por uma série de questões”, explica.

Segundo ele, a dívida era impagável e a empresa estava dando prejuízo, sem conseguir nem mesmo pagar os juros. “Grande parte da frota, sua maior geradora de receita, estava parada. A empresa não tinha mais inclusive patrimônio para suportar a dívida na escalada que ela estava. A situação foi alertada, apontada e advertida”, diz.

Ao fundador (Camilo Cola), tenho a maior estima, convivi com ele mais que convivi com meu pai
Anísio José Fioresi, diretor de novos negócios da Itapemirim

Segundo ele, havia desde recursos utilizados para socorrer outras empresas até retiradas do caixa. “A empresa não fez um trabalho de governança familiar, então a família vivia do caixa da empresa. Isso foi se acumulando ao longo do tempo”, explica.

Ele diz que não traiu a família. “Não participei da composição do negócio, eu fui comunicado da transferência da sociedade. Sempre procurei fazer tudo com a maior lisura.”

Ainda chefe do setor jurídico da Viação Itapemirim, o advogado Romulo Barros Silveira também afirma que não orientou ninguém a entrar em uma recuperação judicial. “Quem trouxe a ideia foi um outro diretor institucional”, diz.

Na época, Silveira diz que não advogava, mas como conselheiro, disse que podia ser uma boa alternativa para a empresa.

“Eu sempre achei esse negócio extremamente difícil, uma empresa com dívidas da ordem de R$ 1 bilhão, reverter é quase impossível. Achei que a empresa deveria ser reestruturada pelo grupo que controlava ela naquele momento. A recuperação nunca foi pautada na geração de caixa, e sim, na venda de ativos”, explicou.

O grupo foi perdendo bons ativos, mas não teve a sensibilidade de reduzir seu endividamento
Romulo Barros Silveira, chefe do setor jurídico da Viação Itapemirim

Silveira afirma que continuou na empresa com a nova gestão pois Camilo Filho o dispensou. “Eu me senti à vontade profissionalmente em aceitar o convite feito pelos novos donos”. Atualmente, ele trabalha para outras empresas de Sidnei Piva e Camila Valdívia.

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Grupo diz que processo de venda de empresas foi legal

Atuais donos do grupo Itapemirim negam acusações dos antigos proprietários

Frota da Itapemirim na década de 1980
Frota da Itapemirim na década de 1980
Site/Itapemirim

Diante das denúncias aventadas pela família Cola, ex-controladora da Viação Itapemirim, os novos sócios do grupo, Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia, se defendem, mostrando documentos e afirmam que a transação foi legal.

A reportagem solicitou entrevista pessoalmente, por videoconferência ou por telefone, mas os sócios preferiram responder os questionamentos por e-mail.

De acordo com o grupo, a transferência do controle acionário foi realizada por meio de contrato de compra e venda de participações, elaborado pelos advogados dos próprios vendedores Camilo Cola e Camilo Cola Filho. Eles afirmam que toda a documentação para transferência das empresas foi assinada pelos antigos donos.

“Todos os documentos foram assinados. Os anexos também foram apresentados em Juízo. A família, num primeiro momento, chegou a negar a assinatura dos contratos. Depois de comprovada a assinatura, passou a dizer que havia pendência de assinatura dos anexos”, completam.

O grupo informa que a questão virou objeto de discussão na Câmara Brasil-Canadá. “Quando surgiu o primeiro questionamento pelos ex-sócios, os novos sócios, por proteção, requereram perante a Câmara Brasil-Canadá, a instauração de procedimento arbitral visando se proteger de eventual conflito de interesses dos ex-sócios”.

Também por e-mail, o grupo enviou um documento com as alterações contratuais levado a registro na Junta Comercial do Espírito Santo, com todas as páginas assinadas por Camilo Cola e Camilo Cola Filho, sem reconhecimento de firma.

Quando a atual gestão assumiu a empresa no final do mês de outubro de 2016, dívidas se acumulavam aos montes, e os salários dos trabalhadores estavam com quatro meses de atraso
Sidnei Piva e Camila Valdívia,donos da itapemirim

O grupo também destacou que, “não fosse a recuperação judicial, a empresa teria perdido todas as suas linhas” porque recebeu uma Declaração de Inidoneidade emitida pela ANTT.

Sobre a denúncia de que os débitos das empresas não estão sendo quitados, os sócios dizem que “os pagamentos são rigorosamente comprovados dentro do processo de Recuperação Judicial”. Os sócios ainda afirmam que as retiradas para a Delta X são prestação de serviço. “A Delta X é uma empresa que compõe o grupo e, como é natural, presta serviço para a Viação Itapemirim e outras empresas visando à redução dos custos”.

Os sócios afirmam que “quando a atual gestão assumiu a empresa no final de outubro de 2016, dívidas se acumulavam aos montes, e os salários dos trabalhadores estavam com quatro meses de atraso. Também não pode ser esquecido que há outros créditos excluídos do regime de recuperação judicial que estão sendo cumpridos pela empresa”.

Nesse ponto, citam como exemplo a renegociação de uma dívida com o Banestes que, segundo eles, afeta uma fazenda da família.

Após as denúncias da família Cola, o grupo processa Camilo Cola Filho por calúnia. “O mesmo não honra o que assina e prefere espalhar fofoca pelo Estado ao invés de assumir que vendeu a empresa, e mais do que isso, assumir que errou em sua administração levando a empresa ao colapso”, afirmam os sócios por e-mail.

A Delta X é uma empresa que compõe o grupo e, como é natural, presta serviço para a Viação Itapemirim e outras empresas visando à redução dos custos
Sidnei Piva e Camila Valdívia, donos da Itapemirim

Eles também destacaram que “têm um enorme respeito por Camilo Cola, fundador do grupo Itapemirim, e jamais adotarão qualquer medida para despejá-lo. A única intenção é promover a recuperação das áreas dos escritórios”. O grupo ainda esclarece que a área onde fica a casa de Camilo Cola é chamada de área histórica, e não contempla o pedido de desocupação, “inclusive sendo matrículas diferentes”.

Viação Itapemirim: a queda de um império


Camilo Cola é intimado a sair da casa onde mora

Camilo Cola foi notificado para desocupar área da Itapemirim
Camilo Cola foi notificado para desocupar área da Itapemirim
Zeca Ribeiro/Ag. Câmara

Os ex-proprietários da Itapemirim, Camilo Cola e Camilo Cola Filho, foram notificados na última semana para desocupar o platô zero, área da empresa onde está a casa do fundador, atualmente com 93 anos.

O pedido, segundo Andréa Cola, não foi aceito pela Justiça. Isso porque, diz ela, o imóvel é de posse da Imobiliária Bianca, a única das empresas em recuperação judicial ainda em nome da família.

Na notificação extrajudicial, a Viação Itapemirim, que é quem pede a desocupação, informa que foi feito acordo verbal para que o espaço fosse utilizado de forma provisória, enquanto iniciavam oprocesso de mudança. A notificação diz que “entretanto, a utilização provisória e precária dos notificados no imóvel em debate tornou-se insustentável em decorrência das diversas acusações difamatórias inverídicas e litígios insanos extrajudiciais e judiciais”.

A notificação também traz a informação de que, em 4 de abril, foi comunicado o pedido de desocupação por haverem impedido acesso dos funcionários da viação ao depósito de arquivo.

Viação Itapemirim: a queda de um império


Ministério Público investiga emissão de passagens

Ministério Público Estadual apura suspeita de possível prática de crime na Itapemirim

Sala com documentos apreendidos
Sala com documentos apreendidos
Foto: Divulgação/Viação Itapemirim

Há cerca de três meses, o representante da administradora judicial do grupo Itapemirim, João Manoel Saraiva, apresentou à Justiça um relatório onde conta ter encontrado documentos suspeitos dentro de uma sala nas dependências da Viação Itapemirim, em Cachoeiro.

Em decisão saneadora do dia 30 de março, o juiz Paulino José Lourenço, da 13ª Vara Cível Especializada Empresarial, afirmou que foram encontrados “uma relação de contrato de câmbio, seis caixas com documentos diversos, planilhas de pagamentos, numerário em moeda estrangeira, uma bolsa preta e quatro equipamentos de emissão de bilhetes de passagens”.

Os sócios da Itapemirim informaram, por e-mail, que as máquinas eram “utilizadas para emitir passagem dublê na empresa, caracterizando o caixa 2”.

O relatório também informa que, no dia 17 de março, “os antigos controladores das recuperandas entraram no local e retiraram o restante da documentação” que não havia sido levado por Saraiva. Por suspeita de “possível prática de condutas criminosas no âmbito das empresas em recuperação”, o juiz decide enviar o material ao Ministério Público Estadual para apuração.

O juiz também afirma, em decisão, que o “Grupo de Apuração Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público Estadual, e a Delegacia Fazendária vêm desenvolvendo investigação acerca de fatos relacionados às empresas em recuperação”.

A reportagem pediu, na última terça-feira, 6, mais informações do Ministério Público sobre o caso. Mas até o fechamento da reportagem, não houve retorno.

Viação Itapemirim: a queda de um império


Justiça desfez negócio da Itapemirim com Kaissara

Negócio feito em 2015 foi considerado desvio de patrimônio por juiz

Foram repassadas à Kaissara 68 das 118 linhas que eram operadas pela Itapemirim
Foram repassadas à Kaissara 68 das 118 linhas que eram operadas pela Itapemirim
Foto: Divulgação

Em junho de 2015, a Viação Itapemirim passou para a Kaissara 68 de suas 118 linhas e cerca de 40% de sua frota. Antes da operação, a Kaissara tinha apenas uma linha. Ela foi formada em 2009, pelos sócios Mário Sérgio Pereira Jussim e Izaias Alves Lima, ambos funcionários da Itapemirim.

Após o ajuizamento da recuperação judicial, no entanto, o juiz Paulino José Lourenço entendeu, em uma decisão de dezembro, que houve “desvio de patrimônio” na operação de transferência das linhas e apontou indícios do uso de “laranjas”.

A Kaissara foi então incluída na recuperação judicial e foram nomeados como interventores dela os atuais sócios da Itapemirim, Camila Valdívia e Sidnei Piva. Os empresários dizem que, com a auditoria, foi possível perceber que a “Viação Itapemirim e a Viação Caiçara (razão social) sempre foram a mesma empresa, sendo que as duas empresas sempre foram administradas por funcionários, porém, todo comando de retirada de dinheiro para processos que não fossem de custeio da operação vinha diretamente dos sócios”.

O juiz Paulino José Lourenço foi procurado, através da assessoria do Tribunal de Justiça, que informou que “o magistrado não concede entrevista sobre processo em curso”.

Viação Itapemirim: a queda de um império


Mesmo endividada, Itapemirim vai comprar ônibus e contratar

Com dívidas trabalhistas, tributárias e com fornecedores da ordem de R$ 1,3 bilhão, o Grupo Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016

Nova sócia da Itapemirim, Camila de Souza Valdívia nega irregularidades
Nova sócia da Itapemirim, Camila de Souza Valdívia nega irregularidades
Foto: Vitor Jubini

Embora esteja endividada e pagando salários atrasados, a Viação Itapemirim vai investir R$ 200 milhões até o fim do ano. Serão 400 novos ônibus na frota da empresa e pelo menos 400 novos postos de trabalho abertos no Estado e no país, segundo donos da empresa.

Com dívidas trabalhistas, tributárias e com fornecedores da ordem de R$ 1,3 bilhão, o Grupo Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016. O processo ainda corre, mas em novembro o grupo foi vendido pela família Cola para os novos sócios, os empresários de São Paulo Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia.

Veja especial

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O negócio, no entanto, virou uma briga na Justiça. Enquanto os antigos donos os acusam de fraude e pedem a empresa de volta, os atuais controladores se defendem, mostram documentos e alegam que agiram estritamente dentro da lei, conforme A GAZETA revelou numa série de matérias exclusivas publicadas desde domingo.

Os novos sócios, no entanto, já têm planos para a empresa. A sócia e diretora administrativa e financeira da Viação Itapemirim, Camila de Souza Valdívia, afirmou, em entrevista, pessoalmente, que o grupo já comprou 16 ônibus de um andar e 9 ônibus de dois andares. Até o fim do ano, serão 400 novos veículos com wi-fi a bordo.

“Fizemos uma intenção de compra de 400 ônibus. Estamos viabilizando esses recursos e captando recursos dentro da empresa”, afirma. “Queremos no mínimo chegar à frota entre 1.100 e 1.200 ônibus, condizente com o número de linhas que a empresa tem. Pelo menos 400 funcionários serão contratados”, complementa Camila.

Os ônibus mais antigos, que estão próximos em dez anos de uso, vão ser substituídos. Ela conta também que a empresa está desenvolvendo um novo app de venda de passagens e check-in eletrônico.

A diretora ressalta que vários investimentos já foram feitos para reativar a operação da empresa. “A garagem de Feira de Santana (BA) não existia mais, era uma parada num posto de gasolina sem estrutura. Nós reformamos a garagem e fizemos alojamento”, observa.

Além disso, ela afirma que foi retomado o abastecimento dos coletivos em bases próprias, “desonerando o valor pago no litro de óleo diesel em R$ 0,15”. Hoje, segundo a diretora, 76% da frota é abastecida em tanques dentro das garagens.

Camila ainda aponta que a intenção do grupo empresarial é entrar no setor de transporte aéreo, tanto na área de cargas quanto de passageiros.

“A Itapemirim nunca foi uma empresa quebrada, ela foi má administrada”, diz a nova sócia. Ela também destaca que a nova gestão regularizou salários, que quando eles chegaram estavam há quatro meses atrasados.

atrasos

Os salários que haviam sido regularizados em novembro, no entanto, voltaram a ficar em atraso a partir de março, dizem sindicatos que representam trabalhadores da Itapemirim.

De acordo com o diretor do Sindiroviários-ES, Uedilson da Vitória, os salários deste mês do pessoal dos setores administrativo e de manutenção ainda não foram pagos. “Informaram que só vão pagar quinta ou sexta”, diz.

Em Cachoeiro, os trabalhadores também enfrentam atrasos, explica o presidente do Sindimotoristas, Elias Brito Spoladore.

“Estive na empresa hoje (ontem), e a informação que tive é que os salários do pessoal da manutenção foi pago hoje (ontem) e que o pessoal do administrativo vai receber amanhã (hoje). Em relação ao tíquete-alimentação, que os funcionários estão há dois meses sem receber, houve uma promessa de que será pago esta semana”, afirma.