Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Guarapari: atrativos para o turista o ano inteiro

Areia monazítica volta a movimentar a economia da cidade

Divulgação

A divulgação, no final de 2017, da pesquisa realizada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que constatou uma menor incidência de câncer de mama entre as moradoras de Guarapari, em relação a outras cidades do Estado, teve um efeito benéfico também para o turismo da região. A fama de cidade saúde, que teve seu auge até os anos 70, começa a ser, aos poucos, resgatada. A expectativa de empresários e moradores é que o turismo volte a movimentar a economia local no ano inteiro.

“Notamos que a praia da Areia Preta ficou mais cheia, e os turistas perguntavam pela pesquisa”, conta Fernando Otávio Campos, dono da Pousada Duas Praias e presidente do Sindicato da Construção Civil de Guarapari. Ele observa que nos últimos anos a cidade acabou perdendo esse turista que vinha em busca de saúde, o que afetou a economia do balneário como um todo.

“O turista que vem em busca de saúde muitas vezes decide ficar de vez, ou, pelo menos, investe em um apartamento para passar temporadas. Ele fica mais tempo na cidade. Deixamos de ser cidade saúde e viramos uma cidade de veraneio, infelizmente”, diz.

Para ele, esse resgate pode trazer de volta o turismo que gera desenvolvimento para a cidade, que hoje é o que é, com um comércio forte e boas opções de serviços, além de uma ótima infraestrutura imobiliária, por ter atraído, lá atrás, pessoas dispostas a fixar raízes, atraídas pela qualidade de vida de Guarapari.

“Hoje temos um número muito maior de turistas, concentrado em épocas como o verão e o carnaval, mas é um turismo pouco qualificado, que não gera riqueza para a cidade”, lamenta. A mesma opinião tem o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Espírito Santo, Gustavo Guimarães, proprietário da Guarapousada.

“Nas décadas de 1950 e 1960 o Radium Hotel era um ponto de atração importante. Turistas de toda parte do País e até do mundo vinham conhecer as areias monazíticas. Com o tempo, essa vocação natural de Guarapari deixou de ser tão conhecida e divulgada”, diz.

Ele observa que o resgate do título de cidade saúde pode levar turistas o ano inteiro à cidade, ao contrário de hoje, quando os visitantes se concentram no verão, e por mais tempo. “Com isso a cidade ganha como um todo, pois é esse turista que faz a economia girar”, destaca.

Guarapari conta hoje com mais de 100 hotéis, mas o gasto médio do turista por dia na cidade é muito baixo: R$ 55. Gustavo ressalta que, enquanto que 10% dos turistas ficam em hotéis, a maioria opta por casas de veraneio, muitas vezes ocupadas desordenadamente. E faz um alerta: esse é um problema que afeta a cidade, e não apenas o setor hoteleiro.

Ele conta que recentemente a prefeitura foi acionada por causa de um derramamento de esgoto na Praia do Morro. Ao atender ao chamado, foi verificado que em uma casa de quatro quartos havia 62 pessoas hospedadas. A rede de esgoto do local, que não foi dimensionada para esse tipo de ocupação, estourou.

“O custo para a coletividade com esse tipo de turismo é muito grande. Temos falta de água, por exemplo, em bairros que ficam nas pontas de linha. E não há ganho econômico, de geração de renda e desenvolvimento, pois o turista gasta muito pouco na cidade”, avalia ele, que também notou uma mudança, ainda pequena, no perfil dos turistas, após a divulgação da pesquisa, e aposta na retomada do título de cidade saúde para que Guarapari possa voltar a crescer.

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Vidas que a areia monazítica transformou

Famílias relatam a cura de problemas de saúde com a terapia na praia

Arquivo AG

A caminho de Guarapari para começar uma vida nova com o marido, a então recém-casada Maria Azevedo Bahiense foi surpreendida pelo destino. Era a década de 1930, e naquela época a estrada era de chão. A viagem à cidade durava mais de três horas. O caminhão que levava a mudança do casal virou e dona Cotinha, como é conhecida, sofreu uma grave fratura exposta no cotovelo.

Na cidade não havia médico. O jeito foi, mesmo com a dor, voltar para Vitória. Mas a Capital, naquela época, também não tinha especialistas para tratar a lesão, e lá foi dona Cotinha para o Rio de Janeiro, onde ouviu do médico a sentença: ela, conhecida por ser uma das melhores datilógrafas da época, teria que operar, mas perderia parte do movimento do braço e provavelmente não voltaria ao trabalho de escrevente de cartório.

Como a família do marido era de Guarapari – e os primeiros relatos dos benefícios da areia monazítica começavam a aparecer – ela decidiu tentar a nova terapia. Por seis meses, todos os dias, seguiu o tratamento: ir à praia e se cobrir com a areia preta. O resultado? Dona Cotinha, hoje aos 100 anos, esbanja saúde. A lesão no braço regrediu quase que totalmente, e ela trabalhou durante anos como escrevente, pilotando sua máquina de escrever. Foi também a primeira vereadora de Guarapari.

“Meu avô, que era prefeito na cidade, a acompanhava à praia todos os dias. E aos poucos aqueles fragmentos de ossos foram se recuperando. Ela readquiriu 95% dos movimentos”, conta o filho, o advogado Ney Simões, 65 anos. Ele recorda que viu muitos casos semelhantes quando criança. Um dos mais marcantes foi o de um senhor, que saiu da Bahia só para fazer o tratamento na areia. Ele mal conseguia andar, por causa de deformações e dores na coluna. “Eu e meu irmão ajudávamos a cobri-lo com a areia. Me marcou muito, pois dois anos depois o vi andando normalmente”, observa.

O tratamento da mãe deu tão certo que ela fez questão de voltar ao médico no Rio de Janeiro e relatar sua melhora. A convite de dona Cotinha, o doutor foi conhecer Guarapari. E não deu outra: no relato, ela conta que ele ficou surpreso ao notar uma melhora significativa na asma crônica que o perseguia há anos.

Relatos

O caso de dona Cotinha é um dos vários que estão sendo catalogados por Ângela Regina Farias Sodré, 65 anos, nascida e criada em Guarapari. “Aqui a gente não precisa nem estar na praia para se beneficiar dessa atmosfera maravilhosa. Quem vive aqui sabe”, diz ela, que é professora e trabalha na divulgação do potencial turístico da cidade. Os casos catalogados serão entregues à Câmara de Vereadores, para que a história não seja esquecida.

“São muitos os relatos, e precisam ser levados a sério”, observa. São casos como o de dona Betânia, artesã de Curitiba. Com uma asma grave que a levava vez por outra ao hospital, se surpreendeu ao passar férias no balneário, quando pôde deixar os remédios de lado. Ao voltar para Curitiba, os problemas reapareceram.

Ela resolveu, então, investir em sua saúde, e se instalou em definitivo em Guarapari, onde está há 20 anos. O marido, que trabalha no Sul do país, vem periodicamente. Mas agora, que se prepara para a aposentadoria, o descanso tem endereço certo: a qualidade de vida em Guarapari, ao lado da esposa.

A opção por morar na cidade é outro fator comum que une essas histórias. No caso da professora carioca Maria Ribeiro Machado da Silva, de 94 anos, foram muitas férias respirando saúde na cidade, até que ela e o marido se aposentassem e pudessem mudar de vez. Mas valeu à pena. Como conta em seu relato, sua primeira vez em Guarapari foi em 1974, para onde foi com uma crise de artrose reumática, o estômago já debilitado por tantos remédios.

Seis meses após, com idas diárias à Praia da Areia Preta, onde se cobria com a areia das 7h às 12h, a realidade era outra: as feridas na perna já não estavam lá, nem as fortes dores que a acompanharam durante anos. Não poderia ser diferente: optou por morar na cidade.

“Somos a única cidade no mundo com essas características. Temos que valorizar, isso deveria ser ensinado nas escolas”, pede a professora e turismóloga Ângela. Ela sonha com o dia em que o Radium Hotel – hoje um grande prédio sem muita utilidade – seja transformado em uma estação de tratamento, e, também, de memória desses casos, que fazem parte da história de Guarapari.

História que os moradores fazem questão de dizer: viram com os próprios olhos, e querem que seus testemunhos sejam ouvidos. “Eu vi várias pessoas chegando em cadeira de rodas à praia. Depois de alguns meses, voltavam a andar e se livravam das dores”, conta o dono da rede de supermercados Santo Antônio, Jorge Zouain, 76, que mora na cidade há 55 anos. “As pessoas precisam conhecer essas histórias”, diz.

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Pesquisadores querem comprovar efeitos medicinais da areia monazítica

Laboratório da Ufes vai reproduzir as condições encontradas em Guarapari para verificar relatos de cura de dores articulares

A Gazeta/Fernando Madeira

Não é à toa que Guarapari ganhou há décadas o título de Cidade Saúde. São inúmeros os relatos dos benefícios creditados à areia monazítica, presente em suas praias, e ao clima ameno. Mas, apesar dos testemunhos – principalmente, do alívio de dores articulares – serem muitos, ainda faltava a Ciência se debruçar sobre o assunto, para tirar a prova dos nove. Esta tarefa está agora nas mãos de uma equipe de cientistas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que vai reproduzir em laboratório as condições encontradas na praia.

O doutor em Física Nuclear e coordenador da pesquisa, Marcos Tadeu Orlando, conta que o laboratório já está todo preparado, e conta com medidores da emissão de radiação e de gases. “Há muitos relatos, inclusive na Comissão Nacional de Energia Nuclear, sobre pessoas que tiveram redução de inflamações articulares, e alívio da dor, ao aplicarem a areia monazítica no corpo. Mas relatos não têm confiabilidade estatística, por isso a importância da pesquisa”, explica.

O que o estudo quer saber é se a exposição à radiação é mesmo capaz de curar doenças. A areia monazítica está 15 vezes mais presente em Guarapari e Meaípe do que em outras praias do Brasil. É uma configuração geológica que só acontece no Estado. Mas, apesar da aparência de cor negra, a monazita na verdade é a parte marrom-esverdeada da areia. O que dá a cor preta à areia é a presença da ilmenita, como explica o professor.

“A ilmenita são os cristais negros, que concentram o calor. A monazita é o mineral que emite radiação”, observa. Como resultado, as medições mostram que em Guarapari a radiação – que normalmente já existe no ar – está presente em níveis 13 vezes maiores do que o usual.

Como ressalta Marcos Tadeu, mesmo em níveis mais elevados as emissões não são altas. São os chamados ultrabaixos níveis de radiação. Os pesquisadores já sabem que a exposição a esses níveis de radiação não faz mal à saúde. Agora, querem descobrir se faz bem. O professor observa que a radiação já é utilizada para melhorar sementes, na agricultura, e já se sabe que ela ajuda a matar bactérias. Testes feitos com morangos, por exemplo, mostraram que a exposição à radiação tornou a fruta mais resistente a pragas e mais doce. Entre animais, a radiação já foi usada para melhorar o antídoto de veneno de cobras, o que mostra seu potencial para aplicação biológica.

Separando os fatores

Recriar o ambiente da praia em laboratório é necessário para que os cientistas separem os fatores quer podem ser responsáveis pelo alívio das dores, para definir o que realmente faz a diferença. “O calor, por exemplo, pode atenuar a dor. Queremos separar o calor e a radiação para saber o quanto cada um contribui para isso”, explica.

Para isso, a reprodução em laboratório tem que ser totalmente fiel às condições encontradas na natureza, quanto à proporção de radiação e de gases emitidos pela areia monazítica. Como explica Marcos Tadeu, Guarapari conta com um ambiente único, em que a radiação não é o único fator a ser levado em conta.

Pesquisadores querem comprovar efeitos medicinais da areia monazítica
Pesquisadores querem comprovar efeitos medicinais da areia monazítica
Foto: A Gazeta/Fernando Madeira

É por isso que a pesquisa vai avaliar também outros elementos, além da exposição à radioterapia, como a aspiração de gases gerados pelos minerais presentes na areia, a exposição ao calor e o ambiente marinho. O pesquisador aponta que tais fatores, em conjunto, só são encontrados, em todo o mundo, em Guarapari.

“Não é só a radiação. É também a aspiração do gás radônio, que é liberado pelos minerais radioativos. E o calor, que já é uma forma de terapia comprovada para as dores. Quando a pessoa se cobre com a areia, ela está unindo todos esses fatores”, observa. É por isso que ãoo adianta levar a areia para casa, por exemplo. “Isso não ajuda, pois o benefício não vem da areia isoladamente”, alerta Marcos Tadeu. A previsão é que a pesquisa leve em torno de dois anos para ser concluída.

 

 

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


A melhor cidade para a melhor idade

Em Guarapari, de cada 10 habitantes um é idoso

Wilton Prata

Principal cidade turística do Espírito Santo, Guarapari também é um dos destinos preferidos por pessoas da terceira idade, tanto para lazer como para morar. De cada 10 habitantes do município, um é idoso. Muitos adotam a Cidade Saúde por motivos de segurança, tranquilidade e qualidade de vida. Outros recorrem à Guarapari, em busca de resposta para algum tratamento de saúde nas areias monazíticas.

Desde 1996, a aposentada Thereza Negri, de 89 anos, reside em Guarapari e esbanja vitalidade. Ela mora de frente para a Praia da Areia Preta. “Aqui é muito gostoso de se viver. Sou apaixonada por Guarapari e privilegiada de morar de frente para o mar. Peço a Deus que conserve a minha saúde para continuar contemplando essa beleza”, diz.

Dona Thereza, como é conhecida na região, pratica natação pelo menos uma hora por dia para manter a saúde. E faz isso sozinha, sem medo. “O mar é tudo pra mim. É a minha vida, minha alegria. Quando não dá pra nadar, está nublado, faço caminhada e gosto de encontrar os amigos no quiosque para bater papo”, afirma.

Dona Thereza é moradora de Guarapari e pratica natação diariamente
Dona Thereza é moradora de Guarapari e pratica natação diariamente
Foto: Tatiane Littike/Pixel Vídeo

De acordo com o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, Guarapari contabiliza 105.286 habitantes residentes no município. Desse total, a população idosa (acima de 60 anos) soma 11.396 pessoas, o que significa 10,82% dos habitantes do município.

Além de belas praias, Guarapari oferece várias atividades para o público da terceira idade. Nos três Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) disponíveis na cidade são ofertadas diversas programações.

Segundo a secretária de Trabalho, Assistência e Cidadania de Guarapari (Setac), Shirley Corrêa, o objetivo é permitir que o idoso envelheça com saúde e ocupação. “A proposta é tirar o idoso da ociosidade. Para isso, são promovidas reuniões, passeios culturais, oficinas de artesanato, cursos de informática, palestras temáticas sobre envelhecimento saudável, direito do idoso, dentre outras ações, fortalecendo o vínculo entre família e comunidade”, explica.

Para o público da terceira idade, que curte uma boa música e gosta de dançar com os amigos, a opção é o Clube da Amizade da Terceira Idade, que realiza encontros semanais.

Há 18 anos, a aposentada Alzira Oliveira Bomfim, frequenta o local. “Amo dançar. O Clube da Amizade é bem animado, tanto para ouvir música e dançar vários ritmos. Um ambiente agradável, divertido e propício para rever os amigos”, diz a aposentada Alzira Oliveira Bomfim, 78 anos.

Solidariedade

Além de saúde e disposição, o público da terceira idade é exemplo no quesito solidariedade. Os idosos são prestativos e buscam sempre ajudar ao próximo. Uma das ações de assistência social desenvolvida na cidade é realizada pela Pastoral da Terceira Idade, em parceria com a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, situada no centro do município.

De acordo com a coordenadora da pastoral, Marlene Ferreira, 80 anos, além de terem um momento de fé e meditação do evangelho, idosos de várias denominações se unem em prol de causas sociais “Desenvolvemos várias atividades de assistencialismo, como arrecadação de roupas, alimentos e cestas básicas. Fazer o bem ao próximo é uma forma de ocupar a cabeça e faz bem ao coração. Nessa idade, se a gente ficar parado adoece”, comenta.

Para o médico homeopata, Áureo Lúcio Zanon, pequenas atitudes diárias contribuem para uma vida saudável e longa. Dentre elas, amar a si mesmo e ao próximo, alimentar-se bem, ter amigos e crer numa energia superior. “A fé é essencial. O ser humano necessita acreditar em algo, independente da religião. Além disso, é fundamental ter família e amigos para compartilhar emoções”, frisa.

Ele acrescentou que, apesar de não haver nenhum estudo que comprove a longevidade das pessoas com relação às areias monazíticas, Guarapari reúne vários benefícios que permitem viver mais e com qualidade. “Ali, são vários pontos positivos num mesmo ambiente, como o clima, o sol, o mar, o ar, as areias radioativas, dentre outros. Acredito que esse conjunto coopera para a longevidade, fazendo com que as pessoas ultrapassem os 90 anos”, ressalta.

História curiosa de Guarapari

Guarapari não é lembrada somente pelas lindas paisagens e areias monazíticas. A cidade também é marcada por várias histórias curiosas. Uma delas está relacionada à inauguração do cemitério São João Batista, em 1906. Depois de dez anos, já em 1916, ninguém havia morrido na cidade.

Com o objetivo de inaugurar o cemitério, para realizar as festividades, a solução encontrada pelas autoridades da época foi transferir o sepultamento de uma andarilha de Anchieta para Guarapari. “Ninguém morria em Guarapari. Era muito difícil. A história acabou repercutindo pelo Brasil e virou até inspiração para o autor da novela O Bem Amado da Rede Globo”, lembra a turismóloga e professora Ângela Regina Sodré.

Ela conta que, na época, o ator Paulo Gracindo, que interpretava o personagem Dorico Paraguaçu, veio até Guarapari para a gravação das filmagens. “As cenas foram gravadas em outro cemitério da cidade, chamado São Tobias, no bairro Coroado, com a participação de vários artistas. O então prefeito da cidade Hugo Borges acompanhou tudo”, lembra.

Guarapari é um dos destinos preferidos por pessoas da terceira idade
Guarapari é um dos destinos preferidos por pessoas da terceira idade
Foto: Wilton Prata

 

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Turismo aquece mercado imobiliário em Guarapari

Cidade recebe empreendimentos para diferentes perfis de consumidores

Divulgação

Guarapari é o destino preferido por muitos turistas para lazer, morar ou investir. Quanto mais a cidade é conhecida, maior é a demanda por imóveis na região. E, com isso, aquece o mercado imobiliário, afirmam os especialistas.

O corretor de imóveis e presidente da Associação Guarapari de Imobiliária (AGI), Michel Gava, adianta que muitos são os motivos para investir na cidade. Dentre eles, as belezas naturais e a variedade de empreendimentos. “Aqui, é possível encontrar imóveis baratos, em comparação a outros balneários do Brasil. Os preços variam entre R$ 180 mil e R$ 500 mil, dependendo da tipologia e do local, o que atende a diversos perfis de consumidores. Sem falar que, no município, é possível comprar direto com as construtoras, sem usar crédito bancário. É mais uma facilidade para o cliente, que consegue economizar e negociar desconto”, explica.

Gava acrescenta que os turistas que investem na região são de vários cantos do país. “O capixaba compra o empreendimento como segunda moradia. E as pessoas de outros Estados adquirem unidades para morar, alugar, passar férias ou até mesmo pensando na aposentadoria, tais como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília”, diz.

Segundo o diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis (ABIH-ES), presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Guarapari (Sindicig) e vice-presidente do Sistema Findes, Fernando Otávio Campos, a ascensão do mercado imobiliário na cidade teve início entre o final da década de 90 até 2000. “Nesse período, muitas pessoas compraram imóveis com o intuito de passar férias em família. Alguns anos mais tarde, o crescimento industrial da região favoreceu a vinda de trabalhadores para a cidade, o que gerou demanda por unidades habitacionais”, lembra.

Ele ressalta que, apesar de o setor enfrentar um momento econômico difícil nos últimos três anos, a expectativa para este ano é a melhor possível. “A partir do segundo semestre de 2018, a gente espera avanço, principalmente, com a divulgação da cidade e seus atrativos, como as areias monazíticas”, frisa.

A secretária de Análise e Desenvolvimento de Projetos (Semap) de Guarapari, Milena Ferrari, informa que entre os anos de 2017 e 2018 aproximadamente 300 licenciamentos foram concedidos no município. “Dentre eles, estão 18 condomínios residenciais. Outros empreendimentos estão em fase de aprovação, como um shopping, um supermercado e um conjunto habitacional de grande porte”, lembra.

Desde 2010, a carioca e autônoma Adriana Nunes Boechat, 48, possui imóveis no centro de Guarapari. Ela adianta que conheceu a cidade através de amigos. Após passar férias no município, resolveu adquirir alguns empreendimentos. “Gostei tanto da cidade que comprei quatro imóveis nesse período. Visito o local várias vezes durante o ano para passear. São unidades com dois e três quartos para passar férias com a família ou alugar para os amigos”, conta.

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Guarapari: destino para todas as idades

Artesanato, gastronomia, praias e áreas rurais estão entre os atrativos da cidade

Semcons/PMG
Semcons/PMG
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Em busca de belas praias, lazer, diversidade gastronômica e até de tratamento medicinal nas areias monazíticas, turistas de várias partes do Brasil escolhem Guarapari como destino.

Pelo menos sete vezes ao ano, a carioca aposentada Lúcia Regina Martins, 55 anos, visita Guarapari. “Sinto-me feliz e à vontade nessa cidade acolhedora. E o melhor: faço tudo a pé, como ir à praia, ao cinema, ao shopping e ir à cafeteria com os amigos. Apesar de ser um município grande, tem estilo de uma cidade do interior”, lembra.

Ela faz parte de um grupo cada vez maior de pessoas que se rende aos encantos da cidade todos os anos. O município recebe, em média, um milhão e meio de visitantes durante a alta temporada, entre os meses de dezembro e fevereiro. Esse público movimenta cerca de R$ 100 milhões no turismo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis (ABIH-ES), Gustavo Aride Guimarães, são mais de 50 praias para todos os gostos e idades.“A Bacutia é a praia da paquera, frequentada bastante por jovens. Peracanga é voltada mais às famílias, com a presença de várias crianças. Já as praias de Areia Preta e Meaípe atraem, principalmente, o público da terceira idade, por conta de suas propriedades medicinais”, comenta.

Ele ressalta que, além de belas praias, Guarapari reúne história e culinária. “Aqui é possível conhecer como a cidade surgiu a partir da construção da Igreja Nossa Senhora da Conceição, em 1585, conhecida como Matriz Antiga. A obra foi feita com pedra, caco de concha e óleo de baleia pelos jesuítas. Sem falar da culinária local, com os melhores polos gastronômicos do país, como torta capixaba, moqueca, mariscada e caranguejada”, diz.

Para quem curte um friozinho na região das montanhas e busca descanso, Guarapari também oferece essa opção. A pouco mais de 10 minutos do centro, é possível encontrar temperaturas mais amenas e explorar a zona rural do município, como o Distrito de Buenos Aires.

“Nessa região, as pessoas encontram trilhas, cachoeiras, bares, hotéis e pousadas aconchegantes. Além de contemplar belas paisagens, como a Pedra do Elefante, o visitante pode saborear deliciosas refeições”, adianta o diretor da ABIH-ES, presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Guarapari (Sindicig) e vice-presidente do Sistema Findes, Fernando Otávio Campos.

Semcons/PMG
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Foto: Semcons/PMG

Para trabalhar

E muitas pessoas escolhem Guarapari para empreender. É o caso da empresária Lívia Helena Matrak. Desde janeiro, ela atua no segmento de picolé, sorvete e açaí, na Praia do Morro. A empresária destaca que o município é um excelente lugar para quem busca novos desafios e oportunidades.

 

 

“A cidade tem um potencial turístico enorme, e o negócio só tende a crescer. Agora, vamos investir na estrutura da Frutíssimo, nossa loja, para oferecer no mesmo espaço uma cafeteria. A ideia é oferecer cafés, tortas e sobremesas - gelados e quentes -, além de caldos e sorvete assado, para melhor atender o turista em todas as estações do ano”, frisa.

Para conhecer:

Praias

Guarapari é conhecida mundialmente pelas suas praias de belezas naturais que agradam todos os tipos de frequentadores, mas, poucos sabem que a Cidade Saúde possui mais de 50 praias em seu litoral. São praias badaladas, sossegadas, para prática de esportes, para fins terapêuticos e medicinais.

As praias mais conhecidas são: Areia Preta, Bacutia, Castanheiras, da Cerca, da Sereia, do Meio, do Morro, dos Adventistas, dos Namorados, dos Padres, Guaibura, Meaípe, Peracanga, Prainha de Muquiçaba, Setiba, Setibão, Três Praias.

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Foto: Semcons/PMG

Patrimônio Histórico e cultural

O Sítio Histórico de Guarapari fica situado no Centro, representado por monumentos e atrativos dos séculos XVI ao XIX, além de elementos contemporâneos, que podem ser visitados em uma simples caminhada, iniciando pelo Radium Hotel, passando pela Praia da Areia Preta, Siribeira Clube, Antiga Matriz, Ruínas da Igreja dedicada à Nossa Senhora da Conceição, cemitério São João Batista, Poço dos Jesuítas, Gruta de Sant'ana e Casa da Cultura.

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Foto: Semcons/PMG

Turismo rural

A pouco mais de 10 minutos do Centro, Guarapari reserva uma região de montanhas com paisagens belíssimas, quedas de água em piscinas naturais, pousadas aconchegantes, comidinha feita em fogão à lenha, clima ameno o ano todo, diversidade de produtos caseiros, artesanato, cultura, e ainda podendo contar com a proximidade da cidade de Guarapari.

Uma visita ao mirante de Buenos Aires para contemplação da Pedra do Elefante e de toda a cidade, ou o contato com a cultura capixaba através da comunidade quilombola e o congo, em Iguape, são apenas algumas das opções do turismo rural.

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Foto: Semcons/PMG

Gastronomia

O misto da tradição pesqueira e a herança das culturas indígena, africana, portuguesa, italiana e alemã influenciaram a culinária guarapariense, tornando-a eclética e acrescentando à cozinha capixaba o tempero do amor. Entre os pratos típicos mais famosos temos a torta capixaba, a moqueca, a mariscada e a caranguejada. Além da comida típica, Guarapari possui diversos bares, lanchonetes e restaurantes que oferecem opções variadas de lanches, saladas, carnes, peixes, aves, massas e bebidas, agradando todos os paladares.

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Artesanato

O artesanato local é feito de diversas expressões e referências históricas, culturais e regionais. Os produtos artesanais carregam os costumes, histórias e cultura da cidade e também tem função econômica e social, sendo fonte de renda de muitas famílias de artesãos. São objetos feitos em argila e barro, feitos de conchas, escamas de peixes, fibra de bananeira, renda de bilro, escultura e entalhes em madeira, desde os mais funcionais aos decorativos.

Náutico

A costa de Guarapari com suas praias, pedras, mangues, ilhas e recifes são uma atração à parte quando vista do mar e debaixo dele. As escunas ancoradas próximas à ponte do centro oferecem opções de passeios que contemplam as principais praias da cidade e santuários ecológicos do município.

A menos de uma hora de navegação do centro existe uma região de ilhas e recifes submersos com a “maior biodiversidade de peixes recifais do Brasil”, além dos naufrágios históricos como o cargueiro Inglês Bellucia e o Victory 8B.

Semcons/PMG
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Foto: Semcons/PMG

Ecoturismo

Para adeptos às atividades ligadas à conservação e educação ambiental, Guarapari oferece trilhas, passeios por manguezais, mata de tabuleiro, lagoas, dunas e planícies alagadas e inúmeras formações vegetais, com espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção. Os principais: Reserva Sustentável Concha D’Ostra, Morro da Pescaria e Parque Paulo Cesar Vinha.

Fonte: Prefeitura de Guarapari

Semcons/PMG
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Foto: Semcons/PMG

 

 

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Município está na rota do turismo de saúde

Pesquisa ressalta propriedades medicinais da areia monazítica e atrai turistas

Praias de Guarapari lotadas no carnaval
Praias de Guarapari lotadas no carnaval
Vitor Jubini | GZ | Arquivo

Guarapari volta a ser destaque no cenário internacional por conta das propriedades medicinais da areia monazítica. O município, que recebe em média um milhão e meio de turistas no verão, espera ampliar o número de visitantes com a redescoberta da Cidade Saúde.

E quem já está de mudança, em busca de tratamento na praia da Areia Preta, é a aposentada Georgette Alvim, de 85 anos. Há 58 anos, a capixaba reside no Rio de Janeiro. Após passar alguns dias de férias em Guarapari, no mês passado, decidiu retornar à cidade, de maneira definitiva.

A filha da aposentada, Samira Aride Alvim, 59 anos, adianta que o interesse de mudar surgiu depois que ela assistiu a uma reportagem sobre os benefícios das areias monazíticas para tratamento de várias doenças. E, após ficar alguns dias na praia, observou melhoras para caminhar.

“Minha mãe só usa cadeira de rodas para se locomover, pois tem dificuldade para andar e sente dores. Por acreditar na ação curativa das areias monazíticas, vamos nos mudar para Guarapari até o meio deste ano, para que ela possa tratar problemas de circulação nas pernas e ter mais qualidade de vida”, conta a filha Samira.

Praias de Guarapari lotadas no carnaval
Praias de Guarapari lotadas no carnaval
Foto: Vitor Jubini | GZ | Arquivo

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis (ABIH-ES), Gustavo Aride Guimarães, após décadas, Guarapari volta a ganhar destaque mundial. “Entre as décadas de 50 e 60, as areias radioativas foram a motivação para a descoberta de Guarapari como destino turístico. Naquela época, foi construído o primeiro hotel cassino da cidade – o Radium Hotel –, em função das descobertas das propriedades medicinais da areia preta. Hoje, a história se repete”, lembra.

Ele acrescenta que, a partir da pesquisa, a ideia é tornar a cidade não somente referência como turismo de lazer, mas também em turismo de saúde. “A gente espera, num futuro próximo, que os benefícios das areias possam ser mais explorados pelas pessoas que necessitam de tratamento. Que os pacientes passem a vir pra cá, se instalem na cidade e fique o tempo que for preciso para cuidar da saúde”, diz.

Histórias reais

Muitos moradores de Guarapari já presenciaram ou ouviram histórias de pessoas curadas pelas areias monazíticas. É o caso do aposentado Walter de Prá, 81 anos, um dos incentivadores e colaboradores da pesquisa sobre o tema. “Presenciei inúmeras vezes o sofrimento do meu pai, que tinha problemas na coluna. Tomava vários tipos de remédios e nada dava jeito. Após visitar a praia, 27 dias seguidos, ele voltou a caminhar e nunca mais foi o mesmo”, diz.

O comerciante da região e proprietário do Supermercado Santo Antônio, Jorge Zouain, 74 anos, também relata que presenciou vários fatos na cidade relacionados à areia monazítica. “Há 54 anos, moro em Guarapari e já vi muita coisa acontecer, como pessoas chegando carregadas e depois saírem andando”, comenta.

Ele, inclusive, também vai iniciar um tratamento, na Praia da Areia Preta, para minimizar as dores na lombar e no nervo ciático. “Pretendo me organizar, pelo menos três vezes por semana, para ir à praia e ficar sentado algumas horas na areia, pois lá está o melhor remédio. Foi até uma orientação médica”, frisa.

O médico homeopata Áureo Lúcio Zanon também acredita nas propriedades das areias monazíticas em benefício da saúde. “Sempre acreditei no poder da cura dessa riqueza natural. Faltava apenas uma abordagem científica, o que agora se tornou realidade”, diz.

Ele ressalta que a descoberta das areias monazíticas não pode ficar restrita somente ao Espírito Santo. “O nível de radiação presente nessas praias é muito benéfico e diferenciado em relação a outros Estados e até mesmo em comparação a outros países. Precisamos ir além, porque o mundo quer saúde. E, ali, está a resposta gratuita para o tratamento de diversos problemas dermatológicos, reumatológicos e até psicológicos”, observa.

Estado terá laboratório para estudo de areias monazíticas

Com investimento de R$ 1 milhão, um laboratório de ponta será instalado, ainda este ano, no Estado, para a realização de estudo sobre as areais monazíticas. A afirmação é do físico nuclear e da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (Ufes), Marcos Tadeu Orlando.

Segundo ele, a iniciativa é resultado de uma parceria entre a Ufes e Universidade de São Paulo (USP), que também tem interesse em aprofundar a pesquisa sobre as areias radioativas. "Já existe uma conversa para a implantação desse espaço aqui no Espírito Santo. Os recursos serão utilizados para a aquisição de equipamentos e pesquisas", frisa.

Marcos Tadeu disse que o laboratório vai possibilitar a ánalise, de maneira mais aprofundada e científica, de todos os fatores que compõem a atmosfera da praia, como temperatura, umidade, radiação, dentre outros. "Vamos fazer buscas e estudos sobre a relação das areias monazíticas para tratamentos de inflamações, por exemplo, desde as mais simples até as mais complexas, como artrite e dermatite, tendo também como fonte pessoas que foram curadas", explica.

O físico adiantou que, a partir do aprofundamento científico, a ideia é transformar Guarapari um destino referência, no mundo, para o tratamento de vários problemas de saúde, com a instalação de uma Instância Radioclimática, uma espécie de spar.

Saiba mais sobre a pesquisa

Desde 2008, a pesquisa é realizada pelo físico nuclear e professor da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (Ufes), Marcos Tadeu Orlando. Ele explica que tudo começou, após constatar, pessoalmente, através de medidores de radiações portáteis, diferenças nos níveis de radiação, principalmente, nas proximidades das praias de Guarapari e Meaípe, em comparação a outras regiões litorâneas do Estado.

Uma equipe foi estruturada para estudar as amostras do ar, da areia e da água, com o intuito de analisar os sais minerais presentes no ambiente. “Para isso, contamos com o apoio dos laboratórios dos Departamentos de Física e de Engenharia da Ufes, além de relatos das pessoas beneficiadas pela areias monazíticas. As amostras também foram enviadas para a Universidade de São Paulo (USP) para análise”, explica. O estudo também teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), ligada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti).

Segundo o professor, a análise constatou que, a cor da areia não era totalmente preta, mas composta por outros tons marrom e esverdeado, considerados monazíticos, ou seja, formada por minerais chamados tholio e urânio. Em especial, o mineral tholio, libera o gás radônio, que na atmosfera local, concentra o gás e estimula os efeitos biopositivos do organismo. “Essa radiação, em doses pequenas, ensinam o organismo a desenvolver imunidade”, diz.

A pesquisa apresentou, ainda, resultados que apontam para a relação entre a menor incidência de câncer de mama em mulheres do município e as propriedades das areias monazíticas, usando dados do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir do estudo, a proposta é tornar a Cidade Saúde referência para o tratamento de várias doenças, além da prevenção do câncer de mama.

“O primeiro passo foi dado, o de tornar o estudo estatisticamente claro, a fim de comprovar a eficiência terapêutica da radioatividade das areias na saúde das pessoas. Agora, vamos buscar outros relatos e informações que confirmem o resultado sobre os efeitos das areias radioativas com relações a outros problemas de saúde", comenta.

 

 

Guarapari é redescoberta como Cidade Saúde


Guarapari: várias terapias reunidas em uma só

Os benefícios das areias monazíticas vão além da emissão de radiação na atmosfera

Wilton Prata
Wilton Prata
Wilton Prata

Com o desenvolvimento da segunda etapa de pesquisas sobre os poderes medicinais da areia monazítica, que vai testar em animais a eficácia do tratamento, a expectativa é que, comprovados os benefícios, o tratamento possa ser prescrito pelos médicos para tratar dores crônicas, inflamações e problemas respiratórios. O doutor em física nuclear Marcos Tadeu Orlando, coordenador do estudo na Universidade Federal do Espírito Santo, explica que são várias as possibilidades de terapias.

A Radioterapia, que é a emissão de radiação, é apenas uma delas. Pelos relatos, ela seria mais eficaz no tratamento de problemas articulares e inflamações, como artrite e artrose. Já a Radonioterapia – a aspiração do gás radônio, emitido no processo de irradiação – seria eficaz para estimular os mecanismos de defesa do sistema respiratório.

“Temos também a Talassoterapia, que é o benefício ocasionado por esse ambiente marinho, mais úmido, em conjunto com a exposição ao sol. Essa terapia é utilizada para fortalecer a musculatura e a parte óssea do organismo”, observa o pesquisador.

Já a Ionoterapia é a maior concentração de íons negativos na atmosfera, condição que também acontece nas praias que têm areia monazítica, e seria capaz de diminuir a ação dos radicais livres, prevenindo, por exemplo, o envelhecimento da pele.

Marcos Tadeu destaca ainda a Termoterapia, ou terapia do calor, que já tem larga aplicação contra dores e inflamações em todo o mundo. “Como a coloração da areia é escura, ela esquenta mais do que uma areia branca, potencializando os efeitos”, ressalta o pesquisador.

Ele observa que há ainda outra característica da areia monazítica que merece ser estudada: o seu magnetismo. “O campo magnético ali é maior. Os chineses utilizam a Magnetoterapia no combate a dores, mas isso ainda é um assunto controverso”, diz.

O pesquisador acredita que há mais probabilidade – após a comprovação científica dos efeitos – da criação de centros de tratamento do que do desenvolvimento de medicamentos. “Os benefícios da areia monazítica decorrem de todo um conjunto de fatores que estão naquele ambiente. Não vejo muito a possibilidade de desenvolver medicamentos a partir disso, mas tratamentos, sim”, pondera.

Ele cita os tratamentos para infecções feitos no deserto do Marrocos, por exemplo, onde o paciente é coberto de areia e ingere chás quentes, para potencializar a Termoterapia. Ou as sessões em câmeras hiperbáricas, em que o paciente respira oxigênio puro em um ambiente com pressão atmosférica aumentada, também para combater infecções. É possível pensar no futuro, por exemplo, em uma câmera que reproduza a emissão de gases, de calor e de radiação exatamente como nas praias que têm areia monazítica.

Wilton Prata
Wilton Prata
Foto: Wilton Prata

Dentro de casa

“Faltam dados estatísticos para comprovar os relatos, mas Medicina é isso, é observação. Hoje já temos uma forma de tratamento simples, eficaz e barata, pois está na praia, ao alcance de todos. Acredito que, com essa pesquisa, isso vai ser melhor entendido”, diz o médico homeopata Áureo Lúcio Melo Zanon. Ele mora em Guarapari e conta que já viu os benefícios da terapia dentro de casa.

“Minha mãe melhorou muito do reumatismo depois que veio para Guarapari. Aqui, toda família tem um caso semelhante”, diz, explicando que o primeiro médico a relatar esses efeitos e prescrever os banhos de areia foi o carioca Antônio Silva Mello, considerado o maior defensor e divulgador dos poderes da areia monazítica.

O médico chegou à cidade na década de 30, e foi um dos primeiros a pesquisar a radioatividade no local. Ele escreveu o livro “Guarapari-Maravilha da Natureza”, e reuniu diversos relatos de casos de cura com o tratamento.

 

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Monitoramento das praias de Guarapari ganha reforço de peso

Equipamento adquirido em conjunto com a Universidade de São Paulo vai gerar dados em tempo real

Divulgação

As medições da emissão de gases e de radiação na atmosfera de Guarapari vão ganhar um reforço de peso: o trabalho, que é feito desde 2008 por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), agora conta com um equipamento de última geração, adquirido por meio de convênio de cooperação científica com a Universidade de São Paulo.

O equipamento – que teve um custo de R$ 700 mil – vai revolucionar o monitoramento das praias no balneário, como observa o doutor em Física Nuclear Marcos Tadeu Orlando. “É o mesmo equipamento utilizado no monitoramento das condições atmosféricas do Polo Sul”, comemora.

O material já chegou à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e agora entra na fase de montagem, para começar a operar. Com ele, os pesquisadores terão acesso ao monitoramento de 12 variáveis – como velocidade do vento, intensidade da luz solar, da radiação, emissão de íons na atmosfera -, mais que o dobro do que é monitorado hoje, com o equipamento que está disponível.

“Nossa proposta é divulgar essas medições em tempo real, pela internet, para acesso de pesquisadores e também da população”, conta Marcos Tadeu. Hoje, a equipe conta com uma máquina, que precisa ser operada, para fazer as medições. Agora, passa a ter duas estações de medição fixas, que serão instaladas na praia e trabalharão durante 24h, e outras cinco móveis.

Os dados mais apurados serão fundamentais para subsidiar a segunda fase da pesquisa sobre a eficácia do uso medicinal da areia monazítica, já que permitirão um retrato mais fiel do ambiente e, por consequência, a reprodução mais exata deste mesmo ambiente em laboratório. “Nossa intenção é coletar dados também a longo prazo, para monitorar mudanças e tendências. Em dez anos, por exemplo, teremos um banco de dados sobre como se comporta a natureza nas praias de Guarapari valiosíssimo”, diz.

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Incidência de câncer de mama é menor entre mulheres que moram em Guarapari

Pesquisadores acreditam que a areia monazítica é determinante na prevenção de tumores

Estúdio Gazeta

A equipe da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que estuda e monitora a areia monazítica já faz esse trabalho desde 2008, e, no ano passado, deu um importante passo nos estudos para comprovação dos efeitos terapêuticos encontrados em Guarapari. Em dezembro, o doutor em Física Nuclear e coordenador da pesquisa, Marcos Tadeu Orlando, divulgou um estudo que mostra que a incidência de câncer de mama é menor entre as mulheres que moram na cidade.

Foto: Divulgação/Freepik

Com base nos registros do Sistema Único de Saúde (SUS), os pesquisadores constataram que na Cidade Saúde são registrados dois casos de câncer de mama por grupo de 100 mil habitantes. Para efeito de comparação, em Colatina são 178 casos por 100 mil e em Linhares, 148.

Para o pesquisador, os dados corroboram outras pesquisas feitas em todo o mundo, que mostram que a exposição a níveis baixos de radiação previne o aparecimento de tumores. “Na Europa já existem centros de tratamento para exposição à radiação”, diz. Ele acredita que o fator responsável por esse reduzido número de casos de câncer na cidade seja a atmosfera rica em íons negativos e radiação.

A pesquisa também constatou que os níveis de radiação são semelhantes tanto na praia mais famosa da cidade quanto à presença de areia monazítica, a da Areia Preta, quanto em Meaípe. O estudo comprovou que a Praia da Areia Preta tem 63 mil íons por centímetro cúbico, contra 55 mil de Águas de Lindóia, em São Paulo, muita procurada pelas águas termais para tratar diversas doenças, como dores crônicas.

Depois desse estudo epidemiológico, começa agora a segunda fase da pesquisa, que vai buscar comprovar biologicamente os benefícios da areia monazítica, tanto na prevenção do câncer quanto na cura de outras doenças, como as inflamações articulares.

Foto: Estúdio Gazeta

Para isso, a Ufes vai recriar em laboratório as condições encontradas na praia em Guarapari. “Esse é o papel da Ciência, de testar hipóteses. A evidência epidemiológica ainda é frágil para que possamos dar um próximo passo, que seria utilizar a areia monazítica como tratamento”, observa o médico Pedro Herbert Onofre, que vai participar desta nova fase da pesquisa.

O médico ressalta que, mesmo que se chegue à conclusão de que a areia monazítica não tem efeitos terapêuticos, a pesquisa é importante, pois vai comprovar ou descartar algo que já é dito há décadas.

Ele espera que os primeiros resultados dessa fase de análise biológica do aspecto medicinal da areia já possam ser conhecidos no prazo de um ano. Já o desenvolvimento de tratamentos, ou de medicamentos a partir do que for descoberto, são uma fase posterior. “Primeiro temos que isolar todos os elementos presentes no ambiente e verificar se fazem diferença, e como agem, na prevenção ou tratamento de doenças”, diz.