- Últimas da coluna
O saldo para o Paulo
Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 4 de outubro
O ano era 2000. O governo de José Ignácio chegava à metade e o então governador ainda gozava de prestígio – o desmoronamento começaria no ano seguinte, com casos como a carta aberta da Xerox denunciando esquema de “intermediação onerosa” para liberação de financiamentos do Fundap. Paulo Hartung, então senador pelo PPS, já se projetava como principal força de oposição a Ignácio no Estado, desde que perdera para ele, um par de anos antes, a legenda para concorrer ao governo pelo PSDB. Naquele ano de 2000, o resultado da eleição municipal nos principais colégios do Estado foi fundamental para o sucesso do projeto que Hartung, ainda de forma discreta, começava a articular com aliados para atingir seu maior objetivo: derrotar o grupo de Ignácio e chegar ao Palácio Anchieta em 2002 (como realmente faria).
Num silencioso movimento suprapartidário, o grupo de Hartung conseguiu se espalhar pelo mapa geopolítico capixaba, guardando posição em alguns polos estratégicos e cidades menores: Luiz Paulo (PSDB) reeleito em Vitória, após quase ter sido privado, pelo grupo de Ignácio, da legenda para buscar a reeleição; Max Filho (então no PTB e aliado de Hartung) em Vila Velha; Theodorico Ferraço em Cachoeiro; Lauriano Zancanella em São Mateus e Ruzerte Gaigher em Alfredo Chaves. Esse foi o princípio do movimento que garantiria as bases para o lançamento da candidatura de oposição de Hartung, no famoso episódio da galinha ao molho pardo na casa de Gaigher, em março de 2001. O resto é história.
Dezesseis anos e quatro eleições municipais depois, o governador trabalha para consolidar uma tese que, de certo modo, contraria a lição do episódio que ele mesmo protagonizou: a de que o saldo de uma eleição municipal tem pouco ou nenhum peso no que se pode projetar para a eleição seguinte ao governo estadual. Para Hartung, não há relação de interdependência entre os dois pleitos – tese que ele defendeu na coluna da última sexta, talvez já com a finalidade de se resguardar e atenuar o impacto de um previsível resultado ruim, para ele e para o seu grupo político, nas urnas no último domingo.
Realmente, política é como uma nuvem, alianças mais ainda – as que hoje parecem sólidas se desmancham no ar amanhã. Por outro lado, não é possível rechaçar a importância estratégica de eleger prefeitos do próprio grupo em cidades importantes. Nesse sentido, é inegável que o saldo político para Hartung, no último domingo, não foi nada bom.
Nos cinco maiores colégios do Estado, nenhum dos candidatos a prefeito histórica e politicamente mais identificados com Hartung se elegeu. Nas duas capitais (a política e a histórica), os candidatos mais hartunguistas nem sequer passaram ao 2º turno: Lelo em Vitória e Rodney em Vila Velha. Na Serra, mesmo com fala de apoio de Hartung, Vidigal não pôde liquidar em um turno a disputa contra um adversário ausente em quase toda a campanha; em Cariacica, Juninho é o candidato que apoiou PH em 2014, mas teve menos votos que Marcelo Santos, mesmo com a máquina na mão; em Cachoeiro, candidatos de siglas que estão na base de Hartung sofreram derrota maiúscula para Victor Coelho, do PSB de Casagrande.
Há mais: em Aracruz, o vice-líder do governo na Assembleia, Erick Musso, foi filiado por Hartung ao PMDB e o único em cujo palanque o governador subiu literalmente. Não foi o bastante para evitar ruidosa derrota para Jones Cavaglieri.
Questionado pela coluna se, diante desses dados, o saldo político da eleição pode ser considerado negativo para ele e para sua liderança, Hartung tangenciou: “Deixo essa análise para vocês. Só é preciso ter cuidado para que eu não seja ‘derrotado’ no que nem sequer disputei. Não fui candidato. E, onde me envolvi, foi de uma delicadeza extraordinária...”
O governador, assim, segue buscando minimizar a sua participação no processo. À medida que o faz, minimiza qualquer ônus político por eventuais derrotas de fiéis aliados. Segundo ele, sua atuação no 2º turno estará coerente com o roteiro seguido por ele no 1º, no qual considera ter saído “quase invicto, em termos de participação”. A conferir, então.
Para derrotar Luciano
No QG da campanha (o apartamento do deputado federal Carlos Manato), Amaro Neto atendeu a coluna após a contagem dos votos no domingo e expôs um pouco do seu plano para vencer Luciano Rezende no 2º turno, que pode ser condensado em um tripé: apoios, inserção nas classes A/B e, sobretudo, debates.
O “balanço” de Amaro
“Minha votação (35%) ficou no que esperávamos. No início, ninguém acreditava. Achavam que eu poderia desidratar em algum momento. Sua coluna mesmo publicou que o ex-prefeito Luiz Paulo não acreditava nem que eu conseguiria registrar a candidatura. Registrei, passei pela campanha, mostrei que tenho projeto para a cidade e as deficiências do prefeito. Acredito que não deu para mostrar tudo porque o programa era muito pequeno. Lelo tentou mostrar isso e não conseguiu talvez passar a mensagem.”
Vitória
“Eu não tinha máquina. E, sem máquina e sem grupo político e empresarial, chegar a esse patamar no 1º turno é uma grande vitória da nossa equipe.”
Apoios
“Vou buscar os partidos da base aliada do governo estadual, à qual pertenço. E vou conversar com Lelo também para unirmos forças. (Quanto aos candidatos de esquerda), posso conversar. Tenho simpatia por todos eles. Gosto da figura de todos eles. Todo apoio é bem-vindo.”
Entrada na zona A/B
“(Sobre a divisão dos votos por classes sociais), Luciano não te responde. Eu respondo. Existem paradigmas muito grandes pelo programa popular que eu faço. Nestes 45 dias, já quebramos alguns deles. No debate, mostrei as feridas abertas da atual administração. Temos projetos para toda a cidade. Acredito que, se eu tivesse 90 dias, teria mostrado isso para toda a cidade e o resultado poderia ser outro. Se tivéssemos outros debates, também.”
Cena política
No 1º turno, o governador tirou uma longa licença, passada em viagem a Singapura e à Holanda para atrair negócios para o Espírito Santo. A ausência em missão oficial o poupou bastante do assédio de aliados por declaração de apoio no auge da primeira perna da campanha, mas agora o assédio vai continuar. Ciente disso, Hartung riu da situação e brincou que talvez seja melhor fazer o mesmo no 2º turno e sumir até o dia 30. “Acho que vou fazer mais umas três viagens até o dia da eleição, hehehe...”