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O fim do socialismo e seu legado

Neste Brasil de 2017, não há a menor chance de implantação do "comunismo", do "socialismo" ou coisa que o valha. Qualquer afirmação em contrário carece de vínculo com a realidade política brasileira.


O socialismo está superado, ponto. Caiu do bonde da História. No Brasil também. Diferentemente do que apregoam segmentos que atualmente enxergam em tudo uma temida “ameaça comunista”, o Brasil é, há décadas (vale dizer: inclusive durante o governo do PT), uma república fundada em um regime de governo democrático e, acima de tudo, em uma economia solidamente capitalista. Neste Brasil de 2017, não há a menor chance de implantação do “comunismo”, do “socialismo” ou coisa que o valha. Qualquer afirmação em contrário carece de vínculo com a realidade política brasileira. A chance de um autêntico “comunista” chegar ao poder é menor do que, digamos, a de Tiririca se eleger presidente da República.

Desde a queda do Muro de Berlim (1989) e a desintegração da União Soviética (1991), o “socialismo real” ruiu no mundo. Resiste hoje na utopia de alguns jovens e em algumas ilhotas geopolíticas, como a falida Cuba dos ditadores Castro e a Coreia do Norte do ditador Kim Jong-un. Dito de outro modo, o socialismo perdeu para o implacável capitalismo a intensa corrida histórica que ambos travaram ao longo do século passado.

Isso acaso significa que o sistema socialista só tivesse mazelas, misérias e equívocos, enquanto o capitalismo, ao contrário, só teria virtudes e vantagens? Essa é uma conclusão fácil, afinal o capitalismo é o modelo vencedor. Na verdade, justamente por ser ele o vencedor é que se impõe uma análise mais crítica de como esse sistema, ainda que tenha prevalecido, também possui imperfeições e carece de aprimoramentos.

Talvez essa análise seja ainda mais necessária em um momento em que, no Brasil, assiste-se a uma gana de desmonte radical do Estado, de desmanche de regulações e de proteções sociais. Alguns setores exaltam um liberalismo econômico extremado (praticamente extremista) como solução para todos os problemas que afligem a sociedade. Atenção, é preciso calma aqui. O mercado, em essência, não é um mecanismo inclusivo. Sua natureza é excludente. Será que devemos confiar na autorregulação e na autoaplicação das suas leis como panaceia para a humanidade, sem risco algum de aprofundamento de exclusões e desigualdades?

Não parece crível que um mercado 100% autorregulado, sem intervenção alguma do Estado e sem rede alguma de proteção social e trabalhista, pode mesmo garantir igualdade de oportunidades, inclusão social e distribuição de renda para todos os cidadãos. Pugnar por um capitalismo sem regras nem regulação é readmitir a “lei da selva” no mundo do trabalho, é regredir ao “deixai fazer, deixai passar” dos pensadores liberais clássicos dos primórdios da Revolução Industrial; em última instância, um capitalismo completamente sem leis que regulem a atuação dos capitalistas é justamente aquele do auge da Revolução Industrial, marcado por trabalho semiescravo e jornadas laborais de 16 horas ou mais, pagamentos indignos, direitos trabalhistas só nos sonhos.

Foi justamente essa realidade de extrema exploração da classe trabalhadora que fez frutificarem as teorias do pensamento socialista, hoje caducas, mas a seu tempo importantes para contrapor um sistema alternativo, teoricamente mais justo, a esse capitalismo industrial predatório das origens. Foi graças a essas ideias e à disputa capitalismo versus socialismo que o primeiro precisou se adaptar ao longo do século XX, conceder aqui e ali, comprometer-se a respeitar direitos dos trabalhadores que antes não existiam e que só foram possíveis a partir das lutas de operários movidos, à época, pelo ideário socialista.

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Enfim, o socialismo, ao longo da História, perdeu para o capitalismo, mas ao menos lhe deixou uma valiosa lição: mostrou-lhe que, para preponderar, precisava humanizar-se. Ou tornar-se um pouco menos desumano.

Sim, o socialismo perdeu e hoje a simples hipótese de que possa ser aplicado no Brasil não passa de quimera de quem ainda creia nele ou de paranoia de quem aprecie combater moinhos de vento. Mas tem o seu lugar na História. E não é o da lata de lixo. Merece ser estudado, em seus erros e aceros históricos. Inclusive pelos mais capitalistas.

Desigualdade social

Assumir que o capitalismo puro, o “capitalismo real”, é essencialmente bom para todos, e de modo igual para todos, é ignorar as enormes desigualdades sociais geradas por esse modelo de organização da economia e da vida em sociedade. Principalmente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Concentração de renda

Um novo estudo do World Wealth and Income Database, dirigido pelo economista francês Thomas Piketty, conclui a “extrema e persistente desigualdade” do Brasil. Uma comparação do nosso país com outras três nações capitalistas – Estados Unidos, China e África do Sul – mostra pelo menos uma diferença de 8% no que se refere à renda em mãos do 1% mais rico da população. No Brasil, a renda desse grupo corresponde a 28% do total, enquanto na China é de 14%.

Lula, um comunista?

Discutir se o governo Lula foi “comunista” carece de qualquer sentido. Lula nunca foi comunista. Seu governo muito menos. A “Carta aos Brasileiros”, divulgada por ele em plena campanha de 2002 e que o ajudou a vencer aquela eleição, faria Lenin e Trotsky chorarem abraçados ao lado do túmulo de Marx. Aliás, em diversos aspectos, caberia discutir até que ponto o governo do petista (2003-2010) foi realmente um governo de esquerda.

Capitalismo de Estado

Para começar, Lula governou em aliança com banqueiros e megaempresários. Pôs Meirelles (Bank of Boston) no comando do Banco Central e, até a crise de 2008, as políticas econômicas de seu governo foram bastante ortodoxas. Para reagir à crise, implementou políticas de incentivo ao consumo (e nada mais “capitalista” do que o consumo). Seu grande erro, aliado a toda a corrupção que ele transformou em prática de governo, foi ter instituído exatamente um “capitalismo de Estado”, impulsionando os negócios das “campeãs nacionais” com uma série de favorecimentos lícitos – e, como hoje bem sabemos, também para lá de ilícitos.

Desigualdade socialAssumir que o capitalismo puro, o “capitalismo real”, é essencialmente bom para todos, e de modo igual para todos, é ignorar as enormes desigualdades sociais geradas por esse modelo de organização da economia e da vida em sociedade. Principalmente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Concentração de rendaUm novo estudo do World Wealth and Income Database, dirigido pelo economista francês Thomas Piketty, conclui a “extrema e persistente desigualdade” do Brasil. Uma comparação do nosso país com outras três nações capitalistas – Estados Unidos, China e África do Sul – mostra pelo menos uma diferença de 8% no que se refere à renda em mãos do 1% mais rico da população. No Brasil, a renda desse grupo corresponde a 28% do total, enquanto na China é de 14%.

Lula, um comunista?Discutir se o governo Lula foi “comunista” carece de qualquer sentido. Lula nunca foi comunista. Seu governo muito menos. A “Carta aos Brasileiros”, divulgada por ele em plena campanha de 2002 e que o ajudou a vencer aquela eleição, faria Lenin e Trotsky chorarem abraçados ao lado do túmulo de Marx. Aliás, em diversos aspectos, caberia discutir até que ponto o governo do petista (2003-2010) foi realmente um governo de esquerda.

Capitalismo de EstadoPara começar, Lula governou em aliança com banqueiros e megaempresários. Pôs Meirelles (Bank of Boston) no comando do Banco Central e, até a crise de 2008, as políticas econômicas de seu governo foram bastante ortodoxas. Para reagir à crise, implementou políticas de incentivo ao consumo (e nada mais “capitalista” do que o consumo). Seu grande erro, aliado a toda a corrupção que ele transformou em prática de governo, foi ter instituído exatamente um “capitalismo de Estado”, impulsionando os negócios das “campeãs nacionais” com uma série de favorecimentos lícitos – e, como hoje bem sabemos, também para lá de ilícitos.

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